São Paulo, sexta-feira, 04 de junho de 2004

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PAINEL DO LEITOR

Verbas
"Em relação à reportagem "Lula libera verba social para inadimplente" (Brasil, 2/6), sobre a medida provisória 190, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome faz os seguintes esclarecimentos: 1. O título é completamente equivocado. Primeiro, porque a verba social em questão não se destina aos prefeitos inadimplentes, mas ao atendimento de um universo de aproximadamente 20 milhões de brasileiros que vivem em situação de risco social. Havia anos que parte desse enorme contingente de cidadãos pobres sofria com a interrupção de repasses federais devido à exigência de renovação trimestral da Certidão Negativa de Débito com a Previdência Social. Agora, com a liberação dessa exigência, terão assegurada a continuidade desses programas; 2. A reportagem não reproduz informação absolutamente relevante, que constava de texto distribuído aos jornalistas, de que o fim da exigência da Certidão Negativa de Débito é uma reivindicação histórica da área da assistência social no Brasil. Há 11 anos, quatro conferências nacionais, cem conferências estaduais e milhares de conferências municipais clamam pela extinção desse mecanismo perverso, que pune populações em situação de risco social, e não prefeitos inadimplentes."
Guto Pires, coordenador da assessoria de imprensa do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (Brasília, DF)

Resposta da jornalista Gabriela Athias - O Ministério do Desenvolvimento Social repassa o dinheiro dos programas sociais diretamente para a conta das prefeituras -com exceção do Bolsa-Família, como foi especificado na reportagem. Após a edição da medida provisória 190, publicada no "Diário Oficial" da União de 1º de junho, até mesmo as cidades que estão inadimplentes com o INSS receberão esses recursos. Ao contrário do que diz o missivista, o texto informou que a decisão do governo equipara todos os repasses da área social, já que Saúde e Educação transferem dinheiro aos municípios independentemente da apresentação de certidão negativa.

Cotas
"Devo reconhecer que não seria em qualquer grande jornal que seria publicado um artigo como "A ameaça das cotas" (Opinião, 3/6), de Antônio Gois. É por isso que a Folha é o maior do país."
Eduardo Guimarães (São Paulo, SP)

Impostos
"O leitor Murilo Angeli Piva ("Painel do Leitor", 3/6) parte de uma constatação óbvia -a de que um contrabandista subiu na vida por não pagar impostos- para dizer que esse caso é um exemplo de como os impostos são nocivos. Acho essa correlação ingênua e distorcida, pois o importante é saber se os impostos são racionais e se o seu produto é bem utilizado pelos governos. Se os impostos fossem "corretos" e se todos os pagassem, não haveria concorrência injusta. Como não é isso o que acontece, proliferam "empresários" como esse Law Kin Chong. E, como na frase de Ruy Barbosa, "o honesto sente vergonha"."
Carlos Brisola Marcondes (Florianópolis, SC)

Conquistadores
"Em relação à biblioteca Mário de Andrade, como bem mostrou Marco Antonio Villa ("A destruição de uma biblioteca", "Tendências/Debates", 2/6), ela funciona precariamente. Mas, graças a Deus, ainda funciona, mesmo que esteja agonizando. O mais triste é ver aquelas que "morreram" em razão dos conquistadores. Após a privatização da Telepar (comunicações do Paraná), a excepcional biblioteca foi dizimada, assim como o seu capital humano, que ainda se ressente psicologicamente da tragédia daquela bárbara "conquista". Quem leu o livro "O Nome da Rosa" ou assistiu ao filme sabe de que se trata. Essa, aliás, é uma das principais razões de termos os governantes que temos."
Tito Sales Goulart (Curitiba, PR)

Manifestação primária
"Gostaria de, por meio deste jornal que assino há muitos anos, protestar contra a forma como o Brasil recebeu a equipe da Argentina para o jogo de quarta-feira pelas eliminatórias da Copa do Mundo de 2006. Foi um festival do ridículo. Foi um desrespeito para com o país vizinho tocar mal e porcamente parte de seu hino nacional e, em seguida, expor dois dos maiores músicos da nossa exuberante cultura ao ridículo de cantar o hino nacional sem que houvesse uma estrutura para respaldar tal ato. Foi uma manifestação primária, carregada de oportunismo, que atropelou os princípios de respeito ao cidadão, seja ele argentino ou brasileiro."
Maria Emilia Marques (Campinas, SP)

Dolo
"Ontem a Folha publicou, no caderno Cotidiano, a reportagem "Proprietário de pit bull pode ir a júri popular por morte de menina". A Justiça de Jundiaí decidiu que o vendedor de livros Jamil Alves da Silva, 25, dono do pit bull que em março atacou e matou uma menina de 8 anos, será processado por homicídio doloso (em que há intenção de matar) e poderá ir a júri popular. Se o dono do cão não se preocupa nem em pôr a focinheira em seu animal, nada mais justo que pague pelo crime cometido pelo seu cão, que tem tanto juízo quanto o dono dele."
Conrado de Paulo (Bragança Paulista, SP)

Filosofia
"Muito oportunas e de grande valia as sugestões para leitura das obras introdutórias dos cinco pensadores ("Filosofia para as massas", Mais!, 30/5). Para mim, que sou médico e neófito em filosofia, embora ávido por conhecer a história do pensamento, essa reportagem já valeu a assinatura da Folha."
Marcio Ventura Lugon (Nova Friburgo, RJ)

Homeopatia
"Foi com alarme que li a reportagem "Homeopatia será incentivada no SUS" (Cotidiano, 30/5). Por um lado, preocupa-me muito o uso do escasso dinheiro público da saúde em atividades no mínimo controversas como a homeopatia. A homeopatia, com sua prática de diluições sucessivas, não encontra justificativa em nada que faça sentido em termos do conhecimento que se tem do mundo físico. Preocupa-me também saber que ela é reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina. E o que me causou indignação foi ler uma reportagem totalmente acrítica sobre o assunto. Não há nenhuma opinião de médico alopata. O texto, em determinado ponto, diz que "no Brasil e no exterior [pesquisas] (...) mostram a satisfação do paciente com a homeopatia". Não sabia que a pesquisa médica agora era baseada na "satisfação do cliente". O "especialista" Flavio Dantas sai-se com esta pérola: "São duas terapêuticas com princípios diferentes e que não podem ser comparadas". Como não? Tomemos os exemplos do texto: osteoporose e vício do fumo. Não é preciso muita imaginação para perceber que um estudo controlado sobre a eficácia de qualquer terapia para esses males é perfeitamente viável. É muito interessante que os homeopatas reconheçam que, "em casos de câncer ou de infecção grave (...), a conduta é alopata". Ou seja, enquanto se trata de uma doença crônica, de baixo risco, cuja probabilidade de um processo judicial por má conduta é pequena, a ordem é: "venha a nós o vosso reino". Quando o bicho pega, "aí não é com a gente"."
Eduardo Miranda, professor do Instituto de Física da Unicamp (Campinas, SP)


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