São Paulo, sexta-feira, 04 de junho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TENDÊNCIAS/DEBATES

Verdades a respeito da Mário de Andrade

JOSÉ CASTILHO MARQUES NETO

Diferentemente do que afirma o prof. Marco Antonio Villa em artigo publicado nesta página anteontem ("A destruição de uma biblioteca"), a Biblioteca Mário de Andrade (BMA) não "vive o momento mais grave de sua história" ou está "destruída".
Desde o início do mandato da prefeita Marta Suplicy, o então secretário municipal de Cultura de São Paulo, Marco Aurélio Garcia, elegeu como uma de suas prioridades a reconstrução da BMA, política que continuamos a seguir. Diferentemente da sarcástica acusação irresponsável do articulista, o Programa Colégio de São Paulo não é jogada de marketing, mas política de inclusão cultural e de cidadania, tendo beneficiado até maio deste ano 29.509 pessoas, sem nenhuma restrição de escolaridade, faixa etária ou nível socioeconômico, em 213 aulas abertas, com reconhecidos docentes, para um público que tem imensa dificuldade de acesso a universidades como aquela em que o autor do artigo leciona.
Mais do que a inclusão cultural, o Programa Colégio de São Paulo faz parte de uma estratégia de longo prazo para reinserir a BMA no circuito cultural da cidade, posto que ela havia perdido juntamente com a deterioração de seus serviços, prédio e acervo. Felizmente já revertemos essa tendência, triplicando o número de usuários da biblioteca nos últimos dois anos.


A Mário de Andrade está voltando a ser uma "biblioteca de referência e visitação pública", com ações concretas


Paralelamente às ações de reinserção da BMA, construiu-se também um projeto de plena revitalização- iniciada com a reforma da praça Dom José Gaspar, obra da Emurb e que faz parte do Corredor Cultural- e expansão do edifício que, como parte do Projeto Ação Centro, tornará a Mário de Andrade a biblioteca pública brasileira com melhores condições de atendimento e serviços do país.
Na conclusão desse projeto de revitalização em andamento, com financiamento da prefeitura e do Banco Interamericano de Desenvolvimento, a biblioteca conseguirá reunir seus acervos em um conjunto de edifícios de maneira definitiva, e não "emergencialmente", como sugere o sr. Villa.
Não estamos administrando com medidas emergenciais, porque essa foi a política anterior de destruição e desprezo pelo rico acervo bibliográfico e documental da BMA, empurrando com a barriga problemas estruturais que exigiam medidas profundas e corajosas.
Apesar de o sr. Villa se dizer freqüentador da biblioteca, talvez não tenha percebido ações fundamentais de reconstrução já realizadas: reforma total do sistema hidráulico, causador das constantes inundações, ao que está se seguindo a reforma dos banheiros públicos; instalou-se o sistema telefônico e iniciou-se o programa de informatização do acervo e serviços administrativos, estando em fase de implantação o novo software de consultas do acervo que modernizará as atuais fichas de papel em toda a rede de bibliotecas da cidade; digitalização de 20 mil páginas de livros raros, tornando-os acessíveis ao leitor (www.prefeitura.sp.gov.br/mariodeandrade), processo que continua em 2004 e que duplicará esse número, além de recuperar todo o acervo e instalar uma sala multimídia.
Junto com a Secretaria Municipal de Educação, estamos implantando uma sala de apoio para uso de professores e estudantes, visando prestar serviços e formar novos leitores; acaba de ser concluída a nova iluminação da biblioteca, que aumentou a luminosidade, em todo o prédio, em 40% e economizará 30% dos gastos com eletricidade.
A essas ações somamos programas como o Concurso de Crônicas 450 Anos de São Paulo (1.500 inscritos); formação de parcerias com empresas e instituições; 110 mil pessoas em eventos do Programa Colégio de São Paulo e da Extensão Cultural nos últimos dois anos. São ações que respondem com fatos às acusações irresponsáveis desse senhor.
Infelizmente, à irresponsabilidade ele soma-se mentira e má-fé, quando acusa o ex-secretário de querer fechar a BMA, quando diz que o setor de raros foi fechado, quando diz que os pesquisadores não têm local para pesquisar, quando diz que, na gestão atual, "não foi comprado um único livro". Compraram-se, até 2003, pela Secretaria Municipal de Cultura, 170.877 itens documentários para o sistema de bibliotecas públicas -mais do que o dobro da gestão Pitta. No âmbito da Secretaria Municipal de Educação, 3,5 milhões de itens documentários foram adquiridos para as novas bibliotecas dos CEUs, as salas de leitura e a rede pública.
A Mário de Andrade está voltando a ser uma "biblioteca de referência e visitação pública", com ações concretas, estratégicas, e não demagógicas. O sr. Villa poderia se juntar a muitos cidadãos e entidades que estão empenhados em auxiliar o poder público municipal nessa árdua tarefa de reconstruir o patrimônio cultural da cidade, mediante a ora fundada Associação de Amigos e Patronos da BMA. Mas talvez isso seja demais para as intenções do articulista.

José Castilho Marques Neto, 50, professor doutor de filosofia política na Unesp, é diretor geral da Biblioteca Mário de Andrade e presidente da Fundação Editora da Unesp.


Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES
Boris Fausto: Estado e sociedade civil

Próximo Texto: Painel do leitor
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.