São Paulo, terça-feira, 04 de julho de 2000


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DE PLANO A PLANEJAMENTO

A ancoragem cambial e a abertura do mercado interno ao capital estrangeiro foram bases do plano de estabilização implantado em 1994. Se obteve êxito em manter baixa a inflação, o plano criou problemas ao setor produtivo nacional, que enfrentou crédito caro e atração de competidores externos, muita vez também compradores.
Os monetaristas mais fervorosos acreditavam que a situação criaria uma espécie de pressão seletiva, para tomar emprestado um termo à biologia, que induzia empresas brasileiras a melhorarem suas práticas de mercado para sobreviverem. Mas o fato é que, com o fator câmbio distorcido (o real sobrevalorizado) à custa de juros elevados, não se poderia dizer que as condições de competição entre empresas nacionais e estrangeiras fossem comparáveis.
A entrada de capital estrangeiro e a competição com importações promoveram melhorias no parque produtivo brasileiro. Mas, como mostrou esta Folha na edição de domingo, o ataque das empresas estrangeiras concentrou-se em setores de ponta, em que o emprego de capital é intensivo e a utilização de mão-de-obra, restrita.
Além disso, a entrada de capital estrangeiro deu-se pesadamente em setores de infra-estrutura, o que pode ter consequências positivas no fomento da atividade setorial, mas que aumenta o potencial futuro de pressões no balanço de pagamentos.
O controle nacional permaneceu praticamente inalterado em setores de mão-de-obra intensiva e pouco qualificada e de matérias-primas abundantes e baratas. Em uma palavra, o empresariado nacional mais competitivo atrelou-se cada vez mais à produção de "commodities", mercadorias pouco diferenciadas e de baixo valor agregado.
Essa é a híbrida estrutura produtiva que emergiu dos anos de sobrevalorização cambial. Com esse ambiente tem de operar o governo, que esboça retomar algum controle, ainda que tímido, sobre atividades de planejamento do setor produtivo. O objetivo a atingir é claro: diminuir nos próximos anos a perigosa dependência de financiamento externo.



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