|
Próximo Texto | Índice
DE PLANO A PLANEJAMENTO
A ancoragem cambial e a
abertura do mercado interno
ao capital estrangeiro foram bases
do plano de estabilização implantado em 1994. Se obteve êxito em manter baixa a inflação, o plano criou
problemas ao setor produtivo nacional, que enfrentou crédito caro e
atração de competidores externos,
muita vez também compradores.
Os monetaristas mais fervorosos
acreditavam que a situação criaria
uma espécie de pressão seletiva, para
tomar emprestado um termo à biologia, que induzia empresas brasileiras a melhorarem suas práticas de
mercado para sobreviverem. Mas o
fato é que, com o fator câmbio distorcido (o real sobrevalorizado) à
custa de juros elevados, não se poderia dizer que as condições de competição entre empresas nacionais e estrangeiras fossem comparáveis.
A entrada de capital estrangeiro e a
competição com importações promoveram melhorias no parque produtivo brasileiro. Mas, como mostrou esta Folha na edição de domingo, o ataque das empresas estrangeiras concentrou-se em setores de
ponta, em que o emprego de capital é
intensivo e a utilização de mão-de-obra, restrita.
Além disso, a entrada de capital estrangeiro deu-se pesadamente em
setores de infra-estrutura, o que pode ter consequências positivas no fomento da atividade setorial, mas que
aumenta o potencial futuro de pressões no balanço de pagamentos.
O controle nacional permaneceu
praticamente inalterado em setores
de mão-de-obra intensiva e pouco
qualificada e de matérias-primas
abundantes e baratas. Em uma palavra, o empresariado nacional mais
competitivo atrelou-se cada vez mais
à produção de "commodities", mercadorias pouco diferenciadas e de
baixo valor agregado.
Essa é a híbrida estrutura produtiva
que emergiu dos anos de sobrevalorização cambial. Com esse ambiente
tem de operar o governo, que esboça
retomar algum controle, ainda que
tímido, sobre atividades de planejamento do setor produtivo. O objetivo
a atingir é claro: diminuir nos próximos anos a perigosa dependência de
financiamento externo.
Próximo Texto: Editorial: CRECHES INFORMAIS Índice
|