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CLÓVIS ROSSI
O clamor do público
SÃO PAULO - De todos os argumentos que podem ser usados para pedir
a prisão do senador cassado Luiz Estevão, o único que não vale -mas foi
usado- é o do "clamor do público".
Primeiro, porque, a valer tal critério, seria preciso transformar em presídios o Congresso Nacional, todas as
Assembléias Legislativas estaduais e
todas as Câmaras Municipais. Para o
público, todos os senadores, todos os
deputados federais e estaduais e todos vereadores são ladrões. Logo, deveriam estar todos presos.
É uma percepção absurda, mas para qual boa parte do mundo político
contribui poderosamente.
Em segundo lugar, levar em conta
para tomar decisões judiciais o "clamor do público" equivale a transformar os códigos legais em uma espécie
de grande circo romano.
Em terceiro lugar, porque o mais
importante, no caso de Luiz Estevão
como em casos similares, é menos pôr
na cadeia os responsáveis e mais recuperar o dinheiro público eventualmente desviado por maracutaias.
Sei que meus argumentos não são
exatamente populares. Mas não custa lembrar que o Estado de Direito,
uma das raras conquistas da civilização que o Brasil incorporou nos anos
mais recentes, pressupõe o mais amplo direito de defesa até para acusados de roubo aos cofres públicos ou de
assassinato.
Não custa lembrar também que foi
a ruptura do Estado de Direito que
ajudou a corromper o aparelho de
Estados, nos anos de escuridão do regime militar, por ter-se atribuído a
agentes do Estado o direito de decidir
no ato quem deveria ser morto ou
torturado, em nome dos interesses
supremos dos detentores do poder.
Permitir que se utilize o argumento
do "clamor popular" para levar alguém à cadeia, seja quem for, é escancarar as portas para a pena de
morte e o linchamento de suspeitos
de violências, outros dois evidentes
"clamores populares".
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