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CLÓVIS ROSSI
O mundo força o Brasil
MONTEVIDÉU - Agora não adianta mais assobiar e olhar para o lado: o
Brasil (não apenas o seu governo) vai
ter que decidir o que quer ser quando
crescer, se é que algum dia vai crescer.
Refiro-me à série de negociações comerciais internacionais em que o
país está envolvido -com a Europa,
com os Estados Unidos e, eventualmente, com o resto do planeta- na
que seria a Rodada do Milênio.
Para entrar para valer nessas negociações, o país tem de definir antes
determinadas políticas internas.
Tem, por exemplo, de definir se quer
importar ou fabricar celulares, se
quer fabricar localmente ou importar
componentes eletrônicos, que hoje
são peças vitais em praticamente todas as linhas de produção de qualquer tipo de bens.
Essas decisões implicam adotar as
chamadas políticas industriais, expressão que virou anátema na era
neoliberal pelo que pressupõe de intervenção do governo no livre funcionamento do mercado.
É bobagem. Os Estados Unidos gastam cerca de US$ 460 bilhões com a
sua indústria bélica, o que não deixa
de ter uma faceta de política industrial, ainda mais agora que não há
páreo para os norte-americanos na
cena internacional.
Por que dizer que agora é preciso
tomar essas decisões? Porque as negociações comerciais avançaram, pelo
menos com a Europa, mais do que o
próprio governo brasileiro parecia
acreditar. Os europeus estão prontos
para oferecer a sua abertura ao Mercosul. Querem, como é óbvio, a contrapartida. E o Mercosul não sabe o
que oferecer.
Para tornar as coisas ainda mais
complicadas, tais negociações pegarão mesmo no breu em plena campanha eleitoral, o que significa que personalidades da oposição terão que
ser chamadas a discutir, porque uma
delas pode estar no Planalto em 2003.
O mundo não esperou o Brasil crescer
para impor-lhe decisões complexas.
Que cresça à força, com a sabedoria
que lhe faltou na maior parte dos 179
anos de independência.
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