São Paulo, quarta-feira, 04 de julho de 2001

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CLÓVIS ROSSI

O mundo força o Brasil

MONTEVIDÉU - Agora não adianta mais assobiar e olhar para o lado: o Brasil (não apenas o seu governo) vai ter que decidir o que quer ser quando crescer, se é que algum dia vai crescer.
Refiro-me à série de negociações comerciais internacionais em que o país está envolvido -com a Europa, com os Estados Unidos e, eventualmente, com o resto do planeta- na que seria a Rodada do Milênio.
Para entrar para valer nessas negociações, o país tem de definir antes determinadas políticas internas. Tem, por exemplo, de definir se quer importar ou fabricar celulares, se quer fabricar localmente ou importar componentes eletrônicos, que hoje são peças vitais em praticamente todas as linhas de produção de qualquer tipo de bens.
Essas decisões implicam adotar as chamadas políticas industriais, expressão que virou anátema na era neoliberal pelo que pressupõe de intervenção do governo no livre funcionamento do mercado.
É bobagem. Os Estados Unidos gastam cerca de US$ 460 bilhões com a sua indústria bélica, o que não deixa de ter uma faceta de política industrial, ainda mais agora que não há páreo para os norte-americanos na cena internacional.
Por que dizer que agora é preciso tomar essas decisões? Porque as negociações comerciais avançaram, pelo menos com a Europa, mais do que o próprio governo brasileiro parecia acreditar. Os europeus estão prontos para oferecer a sua abertura ao Mercosul. Querem, como é óbvio, a contrapartida. E o Mercosul não sabe o que oferecer.
Para tornar as coisas ainda mais complicadas, tais negociações pegarão mesmo no breu em plena campanha eleitoral, o que significa que personalidades da oposição terão que ser chamadas a discutir, porque uma delas pode estar no Planalto em 2003. O mundo não esperou o Brasil crescer para impor-lhe decisões complexas. Que cresça à força, com a sabedoria que lhe faltou na maior parte dos 179 anos de independência.



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