São Paulo, domingo, 04 de julho de 2004

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ESPETÁCULO POLÍTICO

A proximidade das eleições municipais traz de volta à cena o espetáculo da política. É chegada a hora dos rostos sorridentes, das promessas, das meias-verdades e das tergiversações. É tempo de vender ilusões e receber votos.
No governo federal, reúnem-se os luminares do petismo para elaborar uma cartilha na qual se listam truques retóricos e estatísticos para mostrar ao eleitor a "mudança" que sozinho ele ainda não conseguiu divisar. Com base no referido manual, os próprios candidatos petistas ou aliados do governo terão a chance de dirimir suas dúvidas e defender, supostamente de maneira mais eficaz, as realizações da atual gestão.
Não importa se a defesa baseia-se em artifícios de linguagem ou números parciais. O fundamental para o político é parecer convincente, mesmo que se equilibre em situações duvidosas, como são algumas alianças que vêm sendo costuradas para as eleições. Quanto a isso, em termos de "heterodoxia" não se economiza, como demonstra bem o caso de São Paulo, onde o eleitor assiste a uma seqüência de entendimentos que fere qualquer princípio de coerência política e desvela o caráter oportunista e circunstancial das coligações.
Não há, de fato, como evitar o constrangimento provocado pela notícia de que a ex-prefeita Luiza Erundina (PSB-SP) e o deputado Michel Temer, do PMDB de Orestes Quércia, formaram uma única chapa para concorrer ao pleito. Quércia e Erundina têm diferenças substanciais. Quando o cacique peemedebista era governador do Estado de São Paulo e Erundina, então no PT, prefeita da capital, eram freqüentes as trocas de farpas entre os dois.
Igualmente embaraçosa é a coligação que reúne o petebista Roberto Jefferson e Levy Fidélix (PRTB-SP) em torno da atual prefeita de São Paulo, Marta Suplicy. Jefferson e Fidélix foram aliados -em momentos distintos- do ex-presidente Fernando Collor de Mello, notório adversário político dos petistas.
Por fim, chama a atenção que o candidato a vice da chapa do tucano José Serra seja Gilberto Kassab, do PFL. O referido político fez parte da equipe do ex-prefeito Celso Pitta e integrou a base de sustentação de Paulo Maluf na Câmara Municipal -nomes que Serra sempre criticou.
É verdade que as situações regionais têm suas especificidades e nem sempre correspondem às nacionais. É certo também que em política não se vai longe sem aliados. É inegável, no entanto, que as alianças em curso na disputa paulistana reforçam a impressão corrente de que para alcançar seus objetivos a classe política sempre se dispõe a sacrificar a coerência e a rasgar compromissos.
Diante desse quadro, é inevitável que a credibilidade dos partidos políticos se desgaste ainda mais aos olhos do eleitor. A cada eleição, essas agremiações parecem empenhadas em dar novos passos para que se indiferenciem na ausência de princípios, no pragmatismo desenfreado e na busca do poder pelo poder.


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