São Paulo, domingo, 04 de julho de 2004

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CRESCIMENTO E JUROS

O Fed (banco central americano) elevou em 0,25 ponto percentual a sua taxa de juro básica. Com isso, a "federal funds rate" subiu para 1,25%. Trata-se do primeiro movimento de alta desde janeiro de 2001, quando a autoridade monetária começou a reduzir a taxa para conter os efeitos da desvalorização do mercado acionário. O Fed sinalizou ainda que o processo de alta dos juros deverá ocorrer de forma gradual, levando em conta a retomada da economia e os índices de inflação. A atividade econômica nos EUA cresce há dez trimestres consecutivos. No primeiro trimestre, a expansão do PIB foi de 3,9%. Quanto à inflação, o comunicado do Comitê de Mercado Aberto sinalizou que, embora os índices mostrem elevação dos preços, "uma parcela desse aumento parece ser conseqüência de fatores transitórios". Sendo assim, o Comitê acredita que "a política monetária acomodativa pode ser removida num ritmo comedido".
Esse movimento gradual de elevação dos juros deve ocorrer para evitar turbulências nos mercados de ativos financeiros e imobiliários dos EUA. O estoque de dívidas na economia americana alcançou US$ 34,7 trilhões no primeiro trimestre de 2004 (mais de três vezes o PIB de US$ 11,4 trilhões). As famílias aproveitaram as baixas taxas de juros para acumular dívidas de US$ 9,5 trilhões, em hipotecas residenciais, empréstimos para carros, cartão de crédito e outras formas de financiamento pessoal. As dívidas das famílias cresceram 11% no primeiro trimestre de 2004. Por sua vez, as corporações acumularam dívidas de US$ 7,5 trilhões, com taxa de crescimento de 4,1% no mesmo período. Nesse contexto, o mercado imobiliário permanece um dos mais vulneráveis a um processo de alta dos juros.
De todo modo, foi dissipada, ao menos por ora, a preocupação dos mercados financeiros globais de que o Fed pudesse agir mais agressivamente para estancar a ameaça de inflação. Espera-se que o novo ciclo de alta dos juros ocorra mediante pequenos aumentos ao longo do segundo semestre de 2004 e 2005, levando a taxa básica para a "faixa de estabilização", entre 3% e 4% ao ano.
Essa opção pelo gradualismo poderá manter o atual dinamismo da economia e do comércio mundial, com efeitos benéficos sobre os mercados emergentes. Ainda restam incertezas, tais como as crises geopolíticas no Oriente Médio e o dinamismo econômico da China. Todavia parece inegável que se reduziu uma fonte de turbulências. Com isso, o segundo semestre deverá se iniciar com perspectivas mais otimistas.
Para o Brasil, um país que ainda é bastante dependente dos fluxos internacionais de capitais, são boas notícias. A redução das incertezas globais sancionada pela decisão do Fed poderá compor um ambiente favorável para o Banco Central reiniciar o processo de compra de reservas internacionais -passo fundamental para a redução da vulnerabilidade externa da economia brasileira.


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