São Paulo, domingo, 04 de julho de 2004

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ELIANE CANTANHÊDE

A culpa também é nossa

BRASÍLIA - No âmbito municipal, houve essa correria frenética e afinal inútil para evitar que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) cortasse 8.528 vagas de vereadores pelo país afora. A estimativa, grosso modo, é de uma economia ali em torno de R$ 50 milhões por ano. Será que essas vagas vão fazer falta? O tempo dirá.
No âmbito estadual, a revelação de que os deputados da Assembléia Legislativa do Rio multiplicaram mirabolantemente seu patrimônio na última legislatura. Em alguns casos, até 1.000%. Será que o ônus compensou o bônus? O tempo já diz.
No âmbito federal, a contabilização de R$ 10,5 milhões gastos com gasolina e lubrificante para os integrantes da Câmara dos Deputados circularem pelos seus redutos nos últimos cinco meses. Será que essa despesa resultou em algo de útil para os eleitores? O tempo já vem dizendo.
São essas coisas que desacreditam um Poder que é nobre pela natureza, mas tem sido bem pouco nobre pela natureza de seus ocupantes. De uma forma mais direta: quem esculhamba a política são os políticos.
Em ano eleitoral, como este, nunca é demais bater na velha tecla de que "nem todos são iguais", é preciso "separar o joio do trigo" e "os Legislativos são os bastiões da democracia".
Também nunca é demais reforçar os avanços graças ao Congresso, como as CPIs Collor-PC Farias, do Orçamento e do Lalau-Luiz Estevão, além de incontáveis leis, iniciativas e a própria Constituinte de 88. Não é nenhuma maravilha, mas é bem melhor do que as regras de exceção e foi suficiente para alavancar todo um processo de redemocratização legal.
É por isso, meu caro leitor, que não adianta só ver as misérias sem lembrar das vitórias, nem só jogar pedra em vereador que não faz nada, deputado estadual que enriquece e deputado federal que passeia demais (ou que fantasia outros gastos, como combustível). A culpa é dele, mas também é sua. O Congresso, as assembléias e as câmaras não são deles, são nossos. Se estão ruins, é porque nós todos precisamos melhorar.


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