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CLÓVIS ROSSI
A confissão de Dirceu
SÃO PAULO - O Brasil é uma fábrica de absurdos tão absurda que a gente
acaba deixando passar frases reveladoras de autoridades. Entre elas, a seguinte, de autoria do chefe da Casa
Civil, José Dirceu: "Não tenho projeto
político pessoal que não seja a reeleição do presidente".
Como assim? Governar o país deixou de fazer parte do projeto político
de um dos mais altos funcionários do
Estado? Ou nunca foi?
Se foi apenas um lapso retórico, o
ministro deveria vir rapidamente a
público para explicar qual é o seu
projeto político. Porque, se for só esse
que ele anunciou, tem que pedir demissão. Não é honesto trabalhar,
com dinheiro público, apenas para
reeleger um cidadão. Se é para isso,
que recupere a sua boquinha no PT e
largue a boquinha no governo.
Dirceu parece estar comprovando
na prática uma avaliação feita nesta
mesma Folha, dia 6 de abril último,
por Zander Navarro, professor visitante da Universidade de Sussex (Inglaterra) e professor do Programa de
Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul.
Navarro constata que a "nova geração de militantes recrutada na última década" (não por acaso o período em que Dirceu "modernizou" o
PT) passou a ser "ampla maioria do
partido (e) deixou, por absoluta desnecessidade, de refletir sobre a nação
e os constrangimentos de sua história, tornando-se incapaz de propor
projetos de futuro".
Conclusão: "O que sobrou foi, tão-somente, a busca incessante às prebendas associadas ao poder. Esse fato rebaixou espantosamente o debate político interno e escancarou as
portas para o privilegiamento de
ambições, pessoais e dos inúmeros
subgrupos existentes".
A frase de Dirceu dá razão à análise e ajuda muito a entender o governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
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