São Paulo, domingo, 04 de julho de 2004

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CLÓVIS ROSSI

A confissão de Dirceu

SÃO PAULO - O Brasil é uma fábrica de absurdos tão absurda que a gente acaba deixando passar frases reveladoras de autoridades. Entre elas, a seguinte, de autoria do chefe da Casa Civil, José Dirceu: "Não tenho projeto político pessoal que não seja a reeleição do presidente".
Como assim? Governar o país deixou de fazer parte do projeto político de um dos mais altos funcionários do Estado? Ou nunca foi?
Se foi apenas um lapso retórico, o ministro deveria vir rapidamente a público para explicar qual é o seu projeto político. Porque, se for só esse que ele anunciou, tem que pedir demissão. Não é honesto trabalhar, com dinheiro público, apenas para reeleger um cidadão. Se é para isso, que recupere a sua boquinha no PT e largue a boquinha no governo.
Dirceu parece estar comprovando na prática uma avaliação feita nesta mesma Folha, dia 6 de abril último, por Zander Navarro, professor visitante da Universidade de Sussex (Inglaterra) e professor do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Navarro constata que a "nova geração de militantes recrutada na última década" (não por acaso o período em que Dirceu "modernizou" o PT) passou a ser "ampla maioria do partido (e) deixou, por absoluta desnecessidade, de refletir sobre a nação e os constrangimentos de sua história, tornando-se incapaz de propor projetos de futuro".
Conclusão: "O que sobrou foi, tão-somente, a busca incessante às prebendas associadas ao poder. Esse fato rebaixou espantosamente o debate político interno e escancarou as portas para o privilegiamento de ambições, pessoais e dos inúmeros subgrupos existentes".
A frase de Dirceu dá razão à análise e ajuda muito a entender o governo de Luiz Inácio Lula da Silva.



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