|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
O Grito dos
Excluídos - dez anos
A Segunda Semana Social Brasileira (1993-1994), que teve como
tema "Brasil, Alternativas e Protagonistas", muito contribuiu para nos
motivar sobre a necessidade de construirmos, de modo conjunto e articulado, o projeto de sociedade que promova justiça e dignidade para todos.
Nasceu, à época, a proposta de, em 7
de setembro, Dia da Pátria a cada ano,
ser lançado o Grito dos Excluídos, expressão do clamor do povo sofrido à
espera de justiça. O "grito" surgiu como denúncia dos mecanismos que
provocam a exclusão social e como
anúncio de caminhos para a construção de uma sociedade solidária.
O Grito dos Excluídos foi celebrado
já em 1995 com o tema "A vida em Primeiro Lugar". Desde o início, procurou-se o momento de encontro e de
participação de toda a sociedade, reunindo as pastorais e organismos da
CNBB, Igrejas, movimentos populares, associações e grupos com as mais
variadas parcerias e atores sociais. A
iniciativa foi crescendo e completa
agora o seu décimo ano, acontecendo
em todo o território nacional.
O Grito procura acolher a indignação diante das injustiças e o grande
anseio de uma nova ordem social e
mundial que supere a fome, a miséria
e a violência, assegurando a todos
condições dignas de vida.
Neste ano de 2004, o lema "Brasil:
Mudança pra valer, o povo faz acontecer!" insiste na necessidade de caminhos novos, em que o povo seja protagonista. A compreensão do Grito inclui vários elementos:
1. A constatação de que grande parte
da população brasileira, de países latino-americanos e de outros continentes padece da exclusão social, fruto do
modelo político e econômico que concentra riquezas e renda na mão de
poucos e agride a soberania nacional,
impondo submissão aos detentores
do capital financeiro internacional;
2. A urgência de construir uma sociedade justa e solidária em que a política e a economia estejam subordinadas aos imperativos éticos de respeito
à dignidade da vida humana e de preservação da natureza;
3. A necessidade de unir e de articular as forças vivas da sociedade, gerando um processo não só de denúncia
dos erros mas de construção coletiva,
em que todos contribuam, com ousadia e tenacidade, para a promoção do
desenvolvimento sustentável e participativo;
4. Os próprios excluídos são protagonistas, e devemos ouvir a voz deles,
associando-nos às suas reivindicações
e às iniciativas que garantam a inclusão social de todos;
Pertence à metodologia do Grito a
variedade criativa das manifestações.
É nesse espírito que se realizam romarias em muitas cidades. Sobressai a 17ª
Romaria dos Trabalhadores, quando,
no Dia da Pátria, trabalhadores se dirigem, aos milhares, ao Santuário de
Nossa Senhora Aparecida, numa bela
expressão de fé e de patriotismo. O
Grito se faz prece.
A mudança tão desejada acontecerá
à medida que aprendermos a viver à
luz de Deus a solidariedade fraterna. A
graça divina é indispensável para vencermos o egoísmo e para colocarmos
em prática a partilha e a reconciliação.
A inclusão social será fruto do mandamento do amor.
Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos
sábados nesta coluna.
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: A língua amada Próximo Texto: Frases
Índice
|