São Paulo, sábado, 04 de setembro de 2004

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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

O Grito dos Excluídos - dez anos

A Segunda Semana Social Brasileira (1993-1994), que teve como tema "Brasil, Alternativas e Protagonistas", muito contribuiu para nos motivar sobre a necessidade de construirmos, de modo conjunto e articulado, o projeto de sociedade que promova justiça e dignidade para todos. Nasceu, à época, a proposta de, em 7 de setembro, Dia da Pátria a cada ano, ser lançado o Grito dos Excluídos, expressão do clamor do povo sofrido à espera de justiça. O "grito" surgiu como denúncia dos mecanismos que provocam a exclusão social e como anúncio de caminhos para a construção de uma sociedade solidária.
O Grito dos Excluídos foi celebrado já em 1995 com o tema "A vida em Primeiro Lugar". Desde o início, procurou-se o momento de encontro e de participação de toda a sociedade, reunindo as pastorais e organismos da CNBB, Igrejas, movimentos populares, associações e grupos com as mais variadas parcerias e atores sociais. A iniciativa foi crescendo e completa agora o seu décimo ano, acontecendo em todo o território nacional.
O Grito procura acolher a indignação diante das injustiças e o grande anseio de uma nova ordem social e mundial que supere a fome, a miséria e a violência, assegurando a todos condições dignas de vida.
Neste ano de 2004, o lema "Brasil: Mudança pra valer, o povo faz acontecer!" insiste na necessidade de caminhos novos, em que o povo seja protagonista. A compreensão do Grito inclui vários elementos:
1. A constatação de que grande parte da população brasileira, de países latino-americanos e de outros continentes padece da exclusão social, fruto do modelo político e econômico que concentra riquezas e renda na mão de poucos e agride a soberania nacional, impondo submissão aos detentores do capital financeiro internacional;
2. A urgência de construir uma sociedade justa e solidária em que a política e a economia estejam subordinadas aos imperativos éticos de respeito à dignidade da vida humana e de preservação da natureza;
3. A necessidade de unir e de articular as forças vivas da sociedade, gerando um processo não só de denúncia dos erros mas de construção coletiva, em que todos contribuam, com ousadia e tenacidade, para a promoção do desenvolvimento sustentável e participativo;
4. Os próprios excluídos são protagonistas, e devemos ouvir a voz deles, associando-nos às suas reivindicações e às iniciativas que garantam a inclusão social de todos;
Pertence à metodologia do Grito a variedade criativa das manifestações. É nesse espírito que se realizam romarias em muitas cidades. Sobressai a 17ª Romaria dos Trabalhadores, quando, no Dia da Pátria, trabalhadores se dirigem, aos milhares, ao Santuário de Nossa Senhora Aparecida, numa bela expressão de fé e de patriotismo. O Grito se faz prece.
A mudança tão desejada acontecerá à medida que aprendermos a viver à luz de Deus a solidariedade fraterna. A graça divina é indispensável para vencermos o egoísmo e para colocarmos em prática a partilha e a reconciliação. A inclusão social será fruto do mandamento do amor.


Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.


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