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CARLOS HEITOR CONY
A língua amada
RIO DE JANEIRO - Meti a mão em complicada cumbuca. Fazendo pequeno comentário na CBN sobre a
intenção do governo de tornar obrigatório o ensino do espanhol nas escolas públicas brasileiras, falei do esperanto, que me parece a tentativa
mais séria de obter um idioma internacional.
Deus é testemunha de que nada tenho contra o esperanto nem contra a
busca de melhor comunicação entre
os seres humanos. Acontece que essa
busca tem dinâmica própria, condicionada por fatores econômicos, políticos e geográficos. O latim foi língua
quase universal enquanto durou o
império romano, hoje o inglês está
ocupando esse pódio, mas nenhum
idioma será imposto à humanidade,
que, nesse particular, caminha por
conta própria.
Não se trata de questão numérica,
nem meramente cultural. O esperanto me parece uma língua biônica, e
foi isso que comentei outro dia, despertando a cólera internacional dos
esperantistas. Recebi e-mails até da
Tailândia, mais de 300 num só dia.
Quis entender como dois minutos
de rádio poderiam criar tamanha
reação. Transcrevo parte de uma das
mensagens que explica o protesto:
"Os esperantistas de todo o mundo
têm ouvidos em toda a parte do planeta, e tudo o que se diz ou escreve
sobre o Esperanto chega ao nosso conhecimento. Não se trata de espiões.
O Esperanto é uma língua viva,
qualquer comentário é anunciado
em rede para que possamos agradecer ou protestar, em defesa de nossa
amada língua, que foi criada para
acabar com a confusão reinante no
mundo no campo da comunicação.
(a) Alfredo Aragón".
Fui ofendido em diversos idiomas.
Chamaram-me de idiota e de débil
mental, sobretudo em esperanto,
quando o insulto soa com mais veemência. Para me penitenciar, procurarei aprender como se diz em esperanto: "Desculpem minha ignorância e o mau jeito".
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