São Paulo, sábado, 04 de setembro de 2004

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CARLOS HEITOR CONY

A língua amada

RIO DE JANEIRO - Meti a mão em complicada cumbuca. Fazendo pequeno comentário na CBN sobre a intenção do governo de tornar obrigatório o ensino do espanhol nas escolas públicas brasileiras, falei do esperanto, que me parece a tentativa mais séria de obter um idioma internacional.
Deus é testemunha de que nada tenho contra o esperanto nem contra a busca de melhor comunicação entre os seres humanos. Acontece que essa busca tem dinâmica própria, condicionada por fatores econômicos, políticos e geográficos. O latim foi língua quase universal enquanto durou o império romano, hoje o inglês está ocupando esse pódio, mas nenhum idioma será imposto à humanidade, que, nesse particular, caminha por conta própria.
Não se trata de questão numérica, nem meramente cultural. O esperanto me parece uma língua biônica, e foi isso que comentei outro dia, despertando a cólera internacional dos esperantistas. Recebi e-mails até da Tailândia, mais de 300 num só dia.
Quis entender como dois minutos de rádio poderiam criar tamanha reação. Transcrevo parte de uma das mensagens que explica o protesto:
"Os esperantistas de todo o mundo têm ouvidos em toda a parte do planeta, e tudo o que se diz ou escreve sobre o Esperanto chega ao nosso conhecimento. Não se trata de espiões. O Esperanto é uma língua viva, qualquer comentário é anunciado em rede para que possamos agradecer ou protestar, em defesa de nossa amada língua, que foi criada para acabar com a confusão reinante no mundo no campo da comunicação. (a) Alfredo Aragón".
Fui ofendido em diversos idiomas. Chamaram-me de idiota e de débil mental, sobretudo em esperanto, quando o insulto soa com mais veemência. Para me penitenciar, procurarei aprender como se diz em esperanto: "Desculpem minha ignorância e o mau jeito".


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