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O carro a álcool é uma solução eficiente?
SIM
A indústria está preparada
JOSÉ CARLOS PINHEIRO NETO
Praticamente por toda a década de
1980 o carro a álcool teve hegemonia
nas vendas de automóveis novos no
Brasil. De 1983 a 1988 a participação
dos carros a álcool nas vendas totais de
automóveis nacionais nunca foi inferior a 88%! É relevante verificar o histórico, para reiterar que a indústria automobilística brasileira, amplamente
favorável ao programa do carro a álcool, coloca o produto nas concessionárias na justa medida da procura por
ele e está atenta à atual etapa de retomada do mercado. Essa é, com clareza,
a posição da indústria.
A partir de 1990 houve declínio do
interesse pelo carro a álcool. Na visão
da indústria automobilística, vários foram os fatores que, em interação, provocaram a involução. Foi, em resumo,
o gradual abandono das políticas que
deram ao carro a álcool a posição de
supremacia que ocupou nos anos 80.
Primeiro, deve ser registrada a crise
provocada pela falta de combustível
ocorrida em 1990, fatal à credibilidade
do produto. Em segundo lugar, mas
não menos relevante, o conjunto de estímulos ao carro a álcool foi se desfazendo no decorrer do tempo. Eram incentivos na aquisição (impostos menores sobre consumo), no custeio
(preço do combustível inferior ao da
gasolina, ao menos para compensar a
diferença energética) e no licenciamento anual (IPVA menor que seu similar a gasolina).
Nota-se, neste momento em que as
vendas de carros a álcool mostram reação (de janeiro a julho foram vendidas
2.700 unidades, mais que o dobro de
todo o ano de 1998, com vendas de
1.200 unidades), um esforço nos três
níveis de governo para a volta de estímulos ao produto. Normas de preferência nas aquisições ou locações públicas de automóveis; isenção ou devolução do IPVA; incentivo de impostos
para taxistas, como a redução do IPI
válida a partir de outubro próximo; e
preço atraente.
É de todo esse conjunto que o carro a
álcool poderá retirar fôlego e retomar
lugar de importância nas vendas.
Acreditamos que outras medidas serão ainda necessárias para consolidar
a volta do carro a álcool. Primeiro, definições claras nas matrizes energéticas
do país sobre o lugar que se pretende
para o álcool combustível, em política
estável de longo prazo. Segundo, reduções de impostos sobre veículos a álcool (IPI, ICMS). Lembre-se que os automóveis de mil cilindradas, que respondem hoje por 68% das vendas gerais de automóveis nacionais, não têm
estímulo especial de impostos para
versões a álcool, exceção feita ao anunciado programa do táxi.
Em resumo: reduzir tributos, garantir a disponibilidade do combustível e
a estabilidade dos preços do álcool e
dar precisas definições de matriz energética são medidas que certamente podem reestimular o mercado do carro a
álcool, como se espera.
A tecnologia do produto disponível é
amplamente desenvolvida, tanto na
indústria automotiva quanto na alcooleira. É geradora de investimentos e de
empregos. São razões que justificam
um esforço para a retomada efetiva do
programa do carro a álcool. Esperamos que os consumidores bem respondam aos estímulos. A indústria estará preparada para atendê-los.
José Carlos da Silveira Pinheiro Neto, 53, é presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) e vice-presidente da General Motors do Brasil.
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