São Paulo, Sábado, 04 de Setembro de 1999
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O carro a álcool é uma solução eficiente?

SIM
A indústria está preparada

JOSÉ CARLOS PINHEIRO NETO

Praticamente por toda a década de 1980 o carro a álcool teve hegemonia nas vendas de automóveis novos no Brasil. De 1983 a 1988 a participação dos carros a álcool nas vendas totais de automóveis nacionais nunca foi inferior a 88%! É relevante verificar o histórico, para reiterar que a indústria automobilística brasileira, amplamente favorável ao programa do carro a álcool, coloca o produto nas concessionárias na justa medida da procura por ele e está atenta à atual etapa de retomada do mercado. Essa é, com clareza, a posição da indústria.
A partir de 1990 houve declínio do interesse pelo carro a álcool. Na visão da indústria automobilística, vários foram os fatores que, em interação, provocaram a involução. Foi, em resumo, o gradual abandono das políticas que deram ao carro a álcool a posição de supremacia que ocupou nos anos 80.
Primeiro, deve ser registrada a crise provocada pela falta de combustível ocorrida em 1990, fatal à credibilidade do produto. Em segundo lugar, mas não menos relevante, o conjunto de estímulos ao carro a álcool foi se desfazendo no decorrer do tempo. Eram incentivos na aquisição (impostos menores sobre consumo), no custeio (preço do combustível inferior ao da gasolina, ao menos para compensar a diferença energética) e no licenciamento anual (IPVA menor que seu similar a gasolina).
Nota-se, neste momento em que as vendas de carros a álcool mostram reação (de janeiro a julho foram vendidas 2.700 unidades, mais que o dobro de todo o ano de 1998, com vendas de 1.200 unidades), um esforço nos três níveis de governo para a volta de estímulos ao produto. Normas de preferência nas aquisições ou locações públicas de automóveis; isenção ou devolução do IPVA; incentivo de impostos para taxistas, como a redução do IPI válida a partir de outubro próximo; e preço atraente.
É de todo esse conjunto que o carro a álcool poderá retirar fôlego e retomar lugar de importância nas vendas.
Acreditamos que outras medidas serão ainda necessárias para consolidar a volta do carro a álcool. Primeiro, definições claras nas matrizes energéticas do país sobre o lugar que se pretende para o álcool combustível, em política estável de longo prazo. Segundo, reduções de impostos sobre veículos a álcool (IPI, ICMS). Lembre-se que os automóveis de mil cilindradas, que respondem hoje por 68% das vendas gerais de automóveis nacionais, não têm estímulo especial de impostos para versões a álcool, exceção feita ao anunciado programa do táxi.
Em resumo: reduzir tributos, garantir a disponibilidade do combustível e a estabilidade dos preços do álcool e dar precisas definições de matriz energética são medidas que certamente podem reestimular o mercado do carro a álcool, como se espera.
A tecnologia do produto disponível é amplamente desenvolvida, tanto na indústria automotiva quanto na alcooleira. É geradora de investimentos e de empregos. São razões que justificam um esforço para a retomada efetiva do programa do carro a álcool. Esperamos que os consumidores bem respondam aos estímulos. A indústria estará preparada para atendê-los.


José Carlos da Silveira Pinheiro Neto, 53, é presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) e vice-presidente da General Motors do Brasil.



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