São Paulo, sexta-feira, 04 de outubro de 2002

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MELHORA REVERSÍVEL

A redução do déficit do país nas transações de bens e serviços com o exterior, que tem ocorrido com velocidade surpreendente, é um dos raros aspectos positivos do noticiário econômico recente.
Essa redução foi insuficiente para compensar a retração ainda mais rápida da entrada de capitais, e portanto para impedir a crise de escassez de dólares. Ainda assim, a diminuição do déficit em transações correntes sugere que, sob a pressão das adversidades, as contas externas caminham para uma posição menos frágil. Pairam dúvidas, no entanto, sobre a solidez desse movimento.
A redução do déficit externo no comércio de bens tem recebido maior atenção. Todos reconhecem que a contração da demanda interna e a forte alta do dólar muito contribuíram para essa redução, ao inibir as importações e estimular as exportações. Não há consenso sobre o que ocorrerá quando a demanda doméstica voltar a crescer. A evolução das importações é uma incógnita: não se sabe quanto de sua queda recente se deveu a uma substituição, duradoura, de importações por bens produzidos internamente.
Não tem recebido a mesma atenção a diminuição do déficit externo em serviços, que também foi relevante. Também nesse caso a redução pode ser em boa medida reversível. As remessas de lucros pelas empresas estrangeiras estão inibidas pelo dólar muito caro e pela baixa rentabilidade. As despesas com fretes estão contidas pela queda das exportações e das importações. E o pagamento de juros está aliviado pelo nível excepcionalmente baixo das taxas de juros internacionais. Vários desses fatores de contenção poderão se reverter quando a economia brasileira e internacional se reaquecerem.
A solidez da melhora do resultado das transações correntes não deve ser superestimada. A retomada do crescimento pode prejudicá-la; uma revalorização muito forte do real também. Resta muito a ser feito para completar o ajuste da estrutura produtiva -por exemplo, ainda está presente o risco de nova insuficiência de oferta de energia. A melhora já observada está longe de justificar qualquer relaxamento no esforço estrutural de ajuste das contas externas.


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