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MELHORA REVERSÍVEL
A redução do déficit do país
nas transações de bens e serviços com o exterior, que tem ocorrido
com velocidade surpreendente, é um
dos raros aspectos positivos do noticiário econômico recente.
Essa redução foi insuficiente para
compensar a retração ainda mais rápida da entrada de capitais, e portanto para impedir a crise de escassez de
dólares. Ainda assim, a diminuição
do déficit em transações correntes
sugere que, sob a pressão das adversidades, as contas externas caminham para uma posição menos frágil. Pairam dúvidas, no entanto, sobre a solidez desse movimento.
A redução do déficit externo no comércio de bens tem recebido maior
atenção. Todos reconhecem que a
contração da demanda interna e a
forte alta do dólar muito contribuíram para essa redução, ao inibir as
importações e estimular as exportações. Não há consenso sobre o que
ocorrerá quando a demanda doméstica voltar a crescer. A evolução das
importações é uma incógnita: não se
sabe quanto de sua queda recente se
deveu a uma substituição, duradoura, de importações por bens produzidos internamente.
Não tem recebido a mesma atenção a diminuição do déficit externo
em serviços, que também foi relevante. Também nesse caso a redução
pode ser em boa medida reversível.
As remessas de lucros pelas empresas estrangeiras estão inibidas pelo
dólar muito caro e pela baixa rentabilidade. As despesas com fretes estão
contidas pela queda das exportações
e das importações. E o pagamento de
juros está aliviado pelo nível excepcionalmente baixo das taxas de juros
internacionais. Vários desses fatores
de contenção poderão se reverter
quando a economia brasileira e internacional se reaquecerem.
A solidez da melhora do resultado
das transações correntes não deve ser
superestimada. A retomada do crescimento pode prejudicá-la; uma revalorização muito forte do real também. Resta muito a ser feito para
completar o ajuste da estrutura produtiva -por exemplo, ainda está
presente o risco de nova insuficiência
de oferta de energia. A melhora já observada está longe de justificar qualquer relaxamento no esforço estrutural de ajuste das contas externas.
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