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CONFRONTAR E NEGOCIAR
A julgar pelas tratativas que tiveram lugar em Trinidad-Tobago para preparar a próxima reunião ministerial da Alca, a se realizar
no mês que vem, em Miami, não são
poucas as chances de que o projeto
para a Área de Livre Comércio das
Américas chegue a um impasse.
Do lado norte-americano, embora
a retórica seja a de uma "Alca ambiciosa e dentro do cronograma", ou
seja, uma negociação abrangente
que mantenha o início do funcionamento do bloco para 2006, já se decidiu que não haverá discussão sobre
apoio interno à agricultura e medidas antidumping. Esses temas seriam debatidos apenas na Organização Mundial de Comércio, já que os
EUA consideram que não podem se
"desarmar unilateralmente", ou seja,
sem contrapartidas da União Européia. O problema é que os sinais
emitidos na última reunião da OMC,
em Cancún, são claros quanto à falta
de empenho dos dois gigantes para
avançar nessas questões.
Retirando da mesa esses aspectos,
os EUA querem, no entanto, preservar uma ampla gama de propostas
que tendem, na maior parte, a beneficiá-los. Ao menos é essa a visão da
diplomacia brasileira, que defende a
política apelidada de "três trilhos". A
Alca abrangeria apenas questões que
não gerassem maior interferência
nas políticas econômicas dos países-membros e a negociação comercial
propriamente dita estaria fortemente
concentrada na redução de tarifas de
importação. Essa negociação seria
travada diretamente entre EUA e
Mercosul. Os temas "sensíveis" de
ambos os lados iriam para a OMC.
A posição do Brasil parece adequada aos interesses do país, que tem
peso importante na economia regional. O risco, no entanto, é que as autoridades brasileiras, animadas com
o maior destaque obtido em fóruns
internacionais, acabem cristalizando
posições que venham a inviabilizar
toda negociação mais significativa.
Se é claro que há ameaças no projeto
da Alca, é preciso ver que ele também
pode trazer benefícios importantes
para a economia brasileira. Para que
isso possa ocorrer, no entanto, o país
tem de saber não apenas confrontar
mas também negociar.
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