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São Paulo, sábado, 04 de outubro de 2003

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CONFRONTAR E NEGOCIAR

A julgar pelas tratativas que tiveram lugar em Trinidad-Tobago para preparar a próxima reunião ministerial da Alca, a se realizar no mês que vem, em Miami, não são poucas as chances de que o projeto para a Área de Livre Comércio das Américas chegue a um impasse.
Do lado norte-americano, embora a retórica seja a de uma "Alca ambiciosa e dentro do cronograma", ou seja, uma negociação abrangente que mantenha o início do funcionamento do bloco para 2006, já se decidiu que não haverá discussão sobre apoio interno à agricultura e medidas antidumping. Esses temas seriam debatidos apenas na Organização Mundial de Comércio, já que os EUA consideram que não podem se "desarmar unilateralmente", ou seja, sem contrapartidas da União Européia. O problema é que os sinais emitidos na última reunião da OMC, em Cancún, são claros quanto à falta de empenho dos dois gigantes para avançar nessas questões.
Retirando da mesa esses aspectos, os EUA querem, no entanto, preservar uma ampla gama de propostas que tendem, na maior parte, a beneficiá-los. Ao menos é essa a visão da diplomacia brasileira, que defende a política apelidada de "três trilhos". A Alca abrangeria apenas questões que não gerassem maior interferência nas políticas econômicas dos países-membros e a negociação comercial propriamente dita estaria fortemente concentrada na redução de tarifas de importação. Essa negociação seria travada diretamente entre EUA e Mercosul. Os temas "sensíveis" de ambos os lados iriam para a OMC.
A posição do Brasil parece adequada aos interesses do país, que tem peso importante na economia regional. O risco, no entanto, é que as autoridades brasileiras, animadas com o maior destaque obtido em fóruns internacionais, acabem cristalizando posições que venham a inviabilizar toda negociação mais significativa. Se é claro que há ameaças no projeto da Alca, é preciso ver que ele também pode trazer benefícios importantes para a economia brasileira. Para que isso possa ocorrer, no entanto, o país tem de saber não apenas confrontar mas também negociar.


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