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FERNANDO RODRIGUES
As falas de Lula
BRASÍLIA - A elite pode torcer o nariz. As metáforas são mesmo de lascar. Ninguém mais aguenta jabuticabeiras, vacas indo para o brejo e trucadas. Só que o formato do discurso
do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é, de longe, o mais popular (ou populista) de todos os presidentes civis
pós-regime militar.
José Sarney (1985-1990) e Fernando
Collor (1990-1992) representavam
oligarquias nordestinas. Falavam de
cima para baixo. Itamar Franco
(1992-1994) tinha péssima oratória,
com tom ultrapassado.
Fernando Henrique Cardoso é um
professor universitário. Tucano. Em
1985, perguntaram-lhe para quem
torcia no futebol. A resposta foi lapidar: "Corinthians, claro. Mas já fui
sócio do Palmeiras. Fora de São Paulo, torço para o Santos. E, se a Portuguesa ganhar, não fico triste".
Lula se declara abertamente corintiano. Ao falar de futebol, truco e outros temas como numa conversa de
bar, o presidente tem sido o principal
marqueteiro de si próprio. Até agora,
a popularidade do petista se manteve
nas alturas -apesar de estar em trajetória declinante.
O fato concreto é que, segundo o
Ibope, em setembro de 1995 a aprovação pessoal de FHC era de 56%. A de
Lula hoje é de 69%. São 13 pontos a
mais, sendo que o petista não tem o
real valendo um dólar.
O discurso de Lula, a propaganda
de Duda Mendonça e o desejo do
brasileiro de acreditar no atual governo explicam a alta aprovação em
meio a uma das piores crises econômicas recentes. O jeito de falar do
presidente e seu carisma certamente
têm peso considerável nessa equação,
impossível de ser medida de maneira
científica.
O que não está claro é se a curva de
popularidade terá fôlego para aguentar até o dia em que a paciência da
população se esgotar pela falta de
crescimento econômico.
Quando esse momento chegar, Lula
terá de ter muito mais que apenas o
zápete na mão para trucar e ganhar
a simpatia dos eleitores.
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