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São Paulo, sábado, 04 de outubro de 2003

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FERNANDO RODRIGUES

As falas de Lula

BRASÍLIA - A elite pode torcer o nariz. As metáforas são mesmo de lascar. Ninguém mais aguenta jabuticabeiras, vacas indo para o brejo e trucadas. Só que o formato do discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é, de longe, o mais popular (ou populista) de todos os presidentes civis pós-regime militar.
José Sarney (1985-1990) e Fernando Collor (1990-1992) representavam oligarquias nordestinas. Falavam de cima para baixo. Itamar Franco (1992-1994) tinha péssima oratória, com tom ultrapassado.
Fernando Henrique Cardoso é um professor universitário. Tucano. Em 1985, perguntaram-lhe para quem torcia no futebol. A resposta foi lapidar: "Corinthians, claro. Mas já fui sócio do Palmeiras. Fora de São Paulo, torço para o Santos. E, se a Portuguesa ganhar, não fico triste".
Lula se declara abertamente corintiano. Ao falar de futebol, truco e outros temas como numa conversa de bar, o presidente tem sido o principal marqueteiro de si próprio. Até agora, a popularidade do petista se manteve nas alturas -apesar de estar em trajetória declinante.
O fato concreto é que, segundo o Ibope, em setembro de 1995 a aprovação pessoal de FHC era de 56%. A de Lula hoje é de 69%. São 13 pontos a mais, sendo que o petista não tem o real valendo um dólar.
O discurso de Lula, a propaganda de Duda Mendonça e o desejo do brasileiro de acreditar no atual governo explicam a alta aprovação em meio a uma das piores crises econômicas recentes. O jeito de falar do presidente e seu carisma certamente têm peso considerável nessa equação, impossível de ser medida de maneira científica.
O que não está claro é se a curva de popularidade terá fôlego para aguentar até o dia em que a paciência da população se esgotar pela falta de crescimento econômico.
Quando esse momento chegar, Lula terá de ter muito mais que apenas o zápete na mão para trucar e ganhar a simpatia dos eleitores.


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