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CLÓVIS ROSSI
Futebol, asas e incentivos
SÃO PAULO - O Real Madrid já
tem o seu Aerolula, ou mais exatamente "La Saeta", um MD-83 assim
rebatizado em homenagem a Alfredo Di Stéfano, apelidado de "Saeta
Rubia" (Flecha Loira) nos tempos
em que era uma espécie de Pelé
branco, o grande craque de um planeta ainda não globalizado.
Mas, ao contrário do Aerolula,
que só dá despesas ao dono (eu, você, nós), "La Saeta" é fonte de negócios: os torcedores que quiserem
viajar com o Real Madrid pagarão
65 mil anuais (algo em torno de R$
170 mil), uma fortuna. Daria para
fazer todo mês Brasil/Espanha/
Brasil em classe executiva.
Ah, o avião do Madrid atendeu à
reivindicação do ministro Nelson
Jobim: reduziu o número de assentos de 170 para 139, de forma a aumentar o espaço para 93 centímetros, em vez dos 73 usuais. O avião
continua pertencendo à Iberia, mas
a delegação do clube tem direito a
cerca de 30 vôos grátis por temporada. Como ocupará, no máximo, 55
lugares, fica o resto para negócios.
Conto essa história, publicada anteontem em "El País", não para ironizar o Aerolula (mas também não
ia perder a piada pronta). Conto
porque é mais uma demonstração,
em escala luxo, de que o futebol se
tornou um portentoso "business",
que já não cabe apenas nas páginas
de esporte.
Tanto é assim que um ícone acadêmico extraordinário, como Eric
Hobsbawm, fala dele e sua entrevista à Folha, ainda por cima, é comentada, justamente nesse aspecto, por um acadêmico do porte do historiador Boris Fausto.
Falo também porque o presidente Lula cobrou, outro dia, incentivo
ao futebol feminino. Nada contra,
presidente, mas, atenção. Se a
transferência de jogadores para o
exterior continuar no ritmo atual,
quem vai precisar de incentivo é o
futebol masculino, para não ficar
do mesmo e pequeno tamanho do
feminino. Ou do badminton.
crossi@uol.com.br
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