São Paulo, sábado, 04 de outubro de 2008

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Algum alívio


Aprovação do resgate financeiro de Bush evita o pior cenário da crise, mas restam dúvidas sobre a eficácia do programa

FINALMENTE a Câmara dos Representantes conseguiu aprovar o megapacote para resgatar instituições financeiras nos EUA. A hipótese de uma segunda rejeição pelos deputados federais poderia agravar a crise, disseminando pânico e falências em escala ainda maior. Discute-se agora se o plano de resgate será suficiente para aplacar a insegurança que assola os investidores.
O projeto aprovado incluiu inúmeras modificações ao texto original. O desembolso dos US$ 700 bilhões foi escalonado: US$ 250 bilhões liberados de imediato; US$ 100 bilhões se o presidente Bush julgar necessário; os US$ 350 bilhões restantes dependerão de uma avaliação do desempenho do resgate.
As operações de compra de papéis podres ligados a hipotecas terão, como contrapartida, o recebimento, pelo governo, de direitos de compra de ações das instituições beneficiadas. O preço dos títulos adquiridos não poderá superar o valor desembolsado pelas instituições para comprá-los. Os ganhos dos executivos das companhias participantes serão limitados.
O governo poderá renegociar tanto o valor como as taxas de juros das hipotecas que adquirir, a fim de evitar o despejo de mutuários em dificuldade de pagamento das prestações. A garantia aos depósitos bancários será elevada de US$ 100 mil a US$ 250 mil, com o objetivo de manter a confiança no sistema financeiro e evitar uma corrida bancária. A Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC), entidade responsável por essas garantias, não terá limites para tomar recursos emprestados do Tesouro a fim de assegurar os pagamentos.
Foram incluídos no programa mais US$ 150 bilhões em corte nos impostos. Vantagens fiscais, estimadas em US$ 80 bilhões, serão concedidas para as empresas ou pessoas físicas que investirem em energias renováveis, tais como usinas solares ou eólicas e produção de álcool a partir de celulose.
Dessa forma, as intenções do megapacote são múltiplas: restabelecer o valor dos ativos financeiros e dos imóveis, evitar novas falências bancárias, conter os despejos das famílias, suavizar a contração do crédito e estimular a recuperação da economia.
Persistem, no entanto, sérias dúvidas sobre a suficiência do programa para deter uma crise que já dá indícios de espraiar-se pela chamada economia real. Os EUA fecharam vagas de emprego em todos os meses deste ano. Em setembro desapareceram mais 159 mil postos de trabalho. O desemprego também subiu na União Européia e no Japão.
O temor de um mergulho recessivo no mundo rico contamina o humor dos investidores. A reversão dessas expectativas poderá exigir outras medidas igualmente abrangentes e dispendiosas, seja dos bancos centrais, seja dos tesouros nacionais. Já se discute a possibilidade de os EUA ampliarem a garantia do Tesouro para todos os depósitos do país, que somam US$ 7 trilhões.


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