São Paulo, segunda-feira, 04 de novembro de 2002

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PAINEL DO LEITOR

Combate à fome
"Tenho sentido um certo incômodo com tudo o que vem sendo dito na imprensa sobre o projeto Fome Zero.
Fiquei ainda mais incomodada com o que escreveu a doutora Zilda Arns ("Tendências/ Debates", pág. A3, 2/11) -sobre ser preciso "valorizar os caminhos já abertos". Acredito que os programas existentes só sirvam como referência para que se faça diferentemente.
Conheço de perto o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti), o Bolsa-Escola, o Bolsa-Alimentação, o Renda Cidadã, o Programa de Saúde da Família (PSF) e o Programa de Interiorização do Trabalho em Saúde (Pits). Sei que na teoria são muito bons, mas na prática...
Programas sociais e de saúde devem ter supervisão intensa. É revoltante ver municípios inventando dados para não perder recursos. Somos mais de 50 milhões de eleitores que não tivemos medo de mudar. Todos devemos acompanhar de perto o combate à fome para que esse projeto não seja apenas mais um."
Larissa Gerin (Cardoso, SP)

 

"Concordo plenamente com o senhor Carlos Alberto Ramos sobre o projeto Fome Zero ser um retrocesso na política de combate à fome. Também concordo com a doutora Zilda Arns quando ela diz ter "dúvidas" sobre a eficiência da utilização de cupons.
Trabalho na Caixa Econômica Federal, que atende 4.999 famílias carentes de seis municípios. Vivencio o cadastramento único (decreto 3877/2001, base única para pagamento dos benefícios atuais) e também a entrega dos cartões e o pagamento em dinheiro às famílias.
Percebo que as famílias conhecem as suas reais necessidades.
Acabar com o sistema de pagamento por meio de cartão e substituí-lo por cupons ou por vales seria um retrocesso."
José Humberto Sczepanski (Jacarezinho, PR)

 

"Os artigos da doutora Zilda Arns e do senhor Carlos Alberto Ramos, embora "divididos" pelo sim e pelo não, na verdade concordam com a importância de atacar o problema da fome e alertam para o risco de que isso seja feito pelo sistema de cupons.
Não conheço o professor Ramos, mas conheço bem e respeito a doutora Zilda Arns e o trabalho da Pastoral da Criança.
Passo agora a conhecer e a respeitar também o professor Ramos, cuja opinião sobre os cupons é, basicamente, a mesma que a da doutora Zilda -e ambas parecem-me corretas.
O que mais importa, entretanto, é perceber este maravilhoso momento que vivemos, quando começamos a debater temas tão preocupantes de forma tão séria e abordando o "como fazer", pois o "que fazer" já foi definido."
Marco Antonio Fontes de Sá (São Paulo, SP)


Messianismo
"Considero precipitadas as declarações do sociólogo José de Souza Martins ("Lula reaviva sebastianismo, diz sociólogo", Brasil, pág. A13, 3/11) de que "a eleição do petista tem origem messiânica". Da mesma forma, na minha opinião, são extemporâneas as análises dos intelectuais que vêem Lula como o "antimessias".
O simples fato de Lula ter sido iniciado na vida política por religiosos da Igreja Católica progressista não explica, nem muito menos justifica, a ilação sociológica com movimentos de caráter sebastianista. Também não vejo nenhuma razão para que se estabeleça uma comparação entre Lula e Getúlio Vargas. Getúlio era cognominado, ou auto-intitulava-se, o "pai dos pobres". Lula, pelo que se sabe de sua biografia e pelo que publicam os jornais, cultiva de forma obstinada as possibilidades de mudanças sociais, políticas, econômicas e culturais com a participação do povo, tendo a "esperança" como palavra de ordem.
Imaginar o presidente recém-eleito como "messias", "antimessias", "sebastianista" e, principalmente, "populista" é querer antecipar análises sociológicas, antropológicas e políticas que somente terão clareza e credibilidade científica com a experiência do governo e o passar do tempo."
Sinvaldo do Nascimento Souza (Rio de Janeiro, RJ)

 

"É sempre gratificante ler Marilena Chauí. Mas não posso concordar com sua observação de que a formação e a história política de Lula "vão na direção exatamente contrária à das tradições populista e messiânica" ("A mudança a caminho", "Tendências/ Debates", pág. A3, 3/11). O surgimento e o crescimento do messianismo são fenômenos que, a partir de um determinado momento, já não dependem mais do líder que os desencadeou.
O fato é que o discurso do candidato criou esperança para os desesperançados que percebem Lula envolto numa aura de graça ou de carisma -como o vencedor dos opressores.
O que me preocupa é que o herói e o mito já estão construídos no imaginário popular, como bem ilustrou a foto da Primeira Página de ontem."
Izidoro Blikstein, professor de comunicações e semiótica da Eaesp-FGV (São Paulo, SP)


Álcool
"Moro na região onde mais se produz álcool no país. Há cerca de dois meses, o litro desse produto era encontrado na maioria dos postos de combustíveis por cerca de R$ 0,60. Hoje, está sendo vendido entre R$ 1,10 e R$ 1,20. Um aumento de quase 100% em 60 dias.
Será que dá para confiar nos usineiros caso o Pró-Álcool seja novamente implantado? Quem tiver a pretensão de comprar um carro movido a álcool deve ficar atento a esse detalhe."
Heitor Caetano do Nascimento (Batatais, SP)


Paz e amor
"Parabéns a Carlos Heitor Cony pelo artigo "Versão nova da Pietá na cidade sem Deus" (Ilustrada, pág. E14, 1º/11).
Deflagremos greve geral contra a violência que nos é enfiada goela abaixo pelos canais de comunicação e, sobretudo, pela sétima arte. Já não temos livre-arbítrio em relação a conviver com a violência em nosso dia-a-dia.
Queremos paz e amor."
Maria Inês Prado (São João da Boa Vista, SP)


DF
"Como brasiliense nata, registro aqui minha indignação com o que vem ocorrendo em Brasília e peço, humildemente, socorro aos meios de comunicação.
Aqui, a alegria ficou prejudicada por um forte sentimento de tristeza, compartilhado por todos aqueles que, em detrimento de possíveis interesses pessoais, pensam no futuro da nossa cidade como um futuro justo, democrático, sem corrupção, sem grilagem de terras públicas e sem atos que atentem contra a liberdade de expressão.
Menos de três dias antes das eleições, a cidade ficou estarrecida com a censura imposta ao jornal "Correio Braziliense".
Um dia depois, tivemos a triste e amedrontadora notícia de que os seus diretores haviam pedido demissão.
Em 28/10, metade da população do DF não pôde comemorar a vitória de Lula tamanha era indignação com a vitória do atual governador."
Luísa Braun Galvão (Brasília, DF)


Emoção
"Estou louco para ver com que cara o deputado Paulo Paim (eleito senador) irá defender o salário mínimo de R$ 500, conforme fazia no passado recente.
Os próximos lances do PT prometem muita emoção e revelarão o quanto FHC tinha razão e senso de responsabilidade em suas propostas e ações de governo."
Rodrigo Borges de Campos Netto (Brasília, DF)


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