São Paulo, segunda-feira, 04 de novembro de 2002 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Caminhos da luta contra a pobreza rural RICARDO ABRAMOVAY
Dois caminhos são propostos hoje à sociedade brasileira para a luta
contra a pobreza nas regiões rurais do
Nordeste.
O programa de construção de um milhão de cisternas levado adiante pela Articulação do Semi-Árido -entidade que envolve importantes segmentos dos setores privado, estatal e associativo da região- exprime esse caminho em que recursos públicos, voltados à satisfação de necessidades básicas, tornam-se fatores de geração de ocupação, e renda e não apenas de sobrevivência. As melhorias técnicas voltadas, no semi-árido, à convivência com a seca -como os sistemas que integram sisal e caprinocultura, sob orientação da Apaeb (Associação dos Pequenos Agricultores da Bahia) e aqueles preconizados também pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária)- indicam igualmente um caminho de crescimento econômico que associa combate à pobreza, aumento do produto e valorização dos recursos naturais. Aqui, as inovações sociais e organizacionais é que são as premissas para um conjunto de mudanças técnicas e econômicas capazes de alterar de maneira expressiva as condições de vida de milhões de pessoas. Pequenos investimentos em infra-estrutura, planos habitacionais, prestação de serviços de saúde e melhor aproveitamento de capacidades técnicas locais; nada disso é espetacular sob o ângulo do crescimento macroeconômico, mas pode desempenhar papel crucial na geração de emprego e no fortalecimento do tecido econômico local. Este segundo caminho supõe a continuidade das transferências de renda de que vive hoje parcela tão importante da população e dos municípios do Nordeste. Mas ele exige também modificação decisiva no formato institucional dessa atribuição de fundos. Fazer da transferência de renda a famílias e regiões pobres a base da formulação de projetos capazes de ampliar sua iniciativa e suas capacidades, eis o sentido estratégico geral deste segundo caminho de luta contra a pobreza. O desenvolvimento rural brasileiro será necessariamente composto por esses dois caminhos de crescimento; não se trata de desprezar a importância dos pólos de crescimento econômico do Nordeste. Mas é fundamental fazer do combate direto à pobreza absoluta uma forma de gerar ocupação e renda, sobretudo nas regiões mais pobres do país. Ricardo Abramovay, 49, é professor titular do Departamento de Economia da Faculdade de Economia e Administração da USP e presidente do Programa de Ciência Ambiental da universidade. É autor de "Paradigmas do Capitalismo Agrário em Questão" (Hucitec/Anpocs/Edunicamp). E-mail: abramov@usp.br Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Alencar Burti: O sonho acabou? Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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