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CLÓVIS ROSSI
Duplamente extraordinária
SÃO PAULO - Olhando para trás, é
impossível discordar do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva quando ele
diz que é "extraordinário" o fato de
os Estados Unidos elegerem, eventualmente, um presidente negro.
Afinal, há meio século, pouco mais
ou menos, um Barack Obama nem
poderia sentar-se no mesmo banco
de um branco, imagine então ter assento na Casa Branca.
Mas, olhando para a frente, o "extraordinário" é insuficiente. A cor
da pele do presidente -branca ou
negra- não vai estabilizar a economia (norte-americana ou do resto
do mundo), não vai devolver um
mínimo de civilização ao Iraque ao
Afeganistão ou a Darfur, não vai reduzir nadica o aquecimento global,
não vai, enfim, resolver um só dos
problemas do planeta.
Sei que é óbvio tudo o que está escrito antes, mas o entusiasmo que
despertou Barack Obama na maioria da mídia norte-americana (e do
resto do mundo) tende a sepultar o
óbvio e, por extensão, a fazer crer
que o importante é o resultado eleitoral em si, não a ação que o governante adotará depois dele.
Nesse ponto, fico com o presidente Hugo Chávez, da Venezuela:
"Que um negro chegue à Presidência dos Estados Unidos não é pouco;
que esteja à altura da história é outra coisa".
Podem apostar à vontade no declínio do império, mas, hoje por hoje, os EUA são a única superpotência do planeta, e, por extensão, seu
presidente é o único capaz de liderar a tal de "change" ("mudança")
de que tanto fala Obama.
Nenhuma mudança, boa ou ruim,
se fará sem os Estados Unidos ou
contra os Estados Unidos.
O problema é que "os EUA aparentemente estão para eleger o
mais inexperiente, menos testado e
menos conhecido candidato que jamais concorreu ao cargo", como escreveu ontem Janet Daley, do
"Daily Telegraph".
A eventual eleição de Obama é,
pois, duplamente extraordinária.
crossi@uol.com.br
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