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A derrota de Obama
Em vitória eleitoral marcante, republicanos conquistam a Câmara e avançam no Senado, mas ainda carecem de líder para disputar a Presidência
A derrota de Barack Obama e de
seu Partido Democrata nas eleições legislativas e estaduais norte-americanas de anteontem só não
foi completa porque a sigla governista conseguiu manter uma tênue maioria no Senado. Estarão,
no entanto, sujeitos a constantes
obstruções regimentais por parte
dos republicanos, que superaram
a barreira dos 40% necessários
para impedir os rivais de impor
sua agenda na Casa.
Já na composição da Câmara, a
insatisfação dos eleitores se fez
ouvir em alto e bom som. Na maior
mudança partidária desde 1948,
os democratas perderam 60 cadeiras, num total de 435, para os republicanos -número que ainda
pode subir até o término da apuração. Com isso, passaram de uma
confortável maioria a uma situação desesperadora.
A onda pró-republicana também chegou às disputas estaduais, onde a oposição tomou ao
menos nove governos do Partido
Democrata, garantindo o controle
da maioria dos Estados.
Configura-se assim o maior revés eleitoral dos democratas desde a chamada "revolução republicana" de 1994, quando os liberais
conservadores tomaram o controle da Câmara e do Senado, dando
início a um domínio parlamentar
que perdurou por 12 anos. Na ocasião, também havia o pano de fundo de uma controversa tentativa
de reforma do sistema de saúde
-embora no pleito atual tenham
pesado sobretudo a lenta recuperação econômica e a taxa de desemprego próxima dos 10%.
A vitória republicana também
veio aliada ao triunfo de alguns
candidatos identificados com o
Tea Party, movimento ultraconservador que tem como mote "devolver a América aos americanos", em oposição às políticas
"socialistas" do governo.
Por fim, um fato curioso, que
aumenta o impacto simbólico do
fracasso eleitoral: entre os assentos no Senado perdidos para a
oposição está aquele que até 2008
era ocupado pelo próprio Obama.
É cedo no entanto para escrever
o epitáfio político do presidente.
Primeiro, cabe lembrar que a retumbante derrota democrata de
1994 não se repetiu dois anos depois -e Bill Clinton conseguiu
reeleger-se à Casa Branca. Segundo, o Partido Republicano carece,
a dois anos da eleição presidencial, de um postulante para suceder Obama, capaz de unir e energizar a base partidária.
Para que o atual presidente se
mantenha no cargo terá de colher
o quanto antes bons resultados na
economia. A criação de empregos
é a prioridade nacional -e já foi
assumida pelo futuro presidente
da Câmara, o republicano John
Boehner. Mudanças recentes na
equipe econômica, aliadas à debacle eleitoral, podem precipitar a
adoção de novas medidas.
A divisão de poder num país onde o Legislativo não costuma subordinar-se aos desígnios do Executivo pode ser benéfica se significar a retomada de algum nível de
diálogo bipartidário após anos de
uma crescente polarização, conforme prometeram ontem os dois
lados. Na antessala da eleição presidencial de 2012, porém, esse cenário parece pouco provável.
Plausível é que a derrota leve o
presidente Obama a deixar em segundo plano a agenda progressista, inclinando-se por diretrizes
mais conservadoras.
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