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São Paulo, quinta-feira, 04 de dezembro de 2003

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CLÓVIS ROSSI

O progresso e o "mas"

SÃO PAULO - Nos últimos muitos anos, cada vez que sai um relatório internacional ou local sobre o Brasil, os jornais são obrigados (exceto os ultra-ufanistas ou ultragovernistas) a acrescentar invariavelmente um "mas" depois de registrar progressos nisso e naquilo.
Típico exemplo é o do relatório sobre educação do IBGE. Vou reproduzir o noticiário de "O Globo", para que não digam que a Folha é sempre negativista (o que, aliás, é uma tremenda bobagem).
Diz o jornal carioca: "O relatório do Censo 2000 sobre educação, do IBGE, revela que, embora tenha havido melhora em relação aos anos 90, só 3,43% da população brasileira têm curso universitário completo. Os dados mostram que as crianças estão chegando tarde à escola. São 4,1 milhões entre 4 e 7 anos fora das salas de aula (31%). Entre brasileiros com mais de 5 anos, ainda há 24 milhões não-alfabetizados (16,7%)".
Como se vê, há mais "mas" do que progressos, o que se repete em qualquer outro censo que tenha havido. O Brasil progride, claro, mas quase por inércia e de uma maneira tão incrivelmente lenta que levará séculos para ser civilizado.
O que mais me incomoda é o desfile, por esta Folha, de autoridades federais ou estaduais que sempre relatam planos e realizações maravilhosas. Fico só em dois dos mais recentes visitantes da casa (o ministro Márcio Thomaz Bastos, da Justiça, e o governador Geraldo Alckmin, de São Paulo). São pessoas sérias, respeitáveis, e recuso-me a crer que mentiram na conversa informal conosco.
Mas é abissal a distância entre o que eles dizem que fazem e o efeito que suas ações provocam nos censos ou na realidade.
É desanimador. Eles acham que estão fazendo o melhor possível (e talvez estejam mesmo), mas é tão pouco para mudar a face do Estado ou do país que morrerei lendo censos em que os "mas" superam, desgraçadamente, os progressos.


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