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CLÓVIS ROSSI
O progresso e o "mas"
SÃO PAULO - Nos últimos muitos anos, cada vez que sai um relatório
internacional ou local sobre o Brasil,
os jornais são obrigados (exceto os ultra-ufanistas ou ultragovernistas) a
acrescentar invariavelmente um
"mas" depois de registrar progressos
nisso e naquilo.
Típico exemplo é o do relatório sobre educação do IBGE. Vou reproduzir o noticiário de "O Globo", para
que não digam que a Folha é sempre
negativista (o que, aliás, é uma tremenda bobagem).
Diz o jornal carioca: "O relatório do
Censo 2000 sobre educação, do IBGE,
revela que, embora tenha havido melhora em relação aos anos 90, só
3,43% da população brasileira têm
curso universitário completo. Os dados mostram que as crianças estão
chegando tarde à escola. São 4,1 milhões entre 4 e 7 anos fora das salas de
aula (31%). Entre brasileiros com
mais de 5 anos, ainda há 24 milhões
não-alfabetizados (16,7%)".
Como se vê, há mais "mas" do que
progressos, o que se repete em qualquer outro censo que tenha havido. O
Brasil progride, claro, mas quase por
inércia e de uma maneira tão incrivelmente lenta que levará séculos para ser civilizado.
O que mais me incomoda é o desfile, por esta Folha, de autoridades federais ou estaduais que sempre relatam planos e realizações maravilhosas. Fico só em dois dos mais recentes
visitantes da casa (o ministro Márcio
Thomaz Bastos, da Justiça, e o governador Geraldo Alckmin, de São Paulo). São pessoas sérias, respeitáveis, e
recuso-me a crer que mentiram na
conversa informal conosco.
Mas é abissal a distância entre o
que eles dizem que fazem e o efeito
que suas ações provocam nos censos
ou na realidade.
É desanimador. Eles acham que estão fazendo o melhor possível (e talvez estejam mesmo), mas é tão pouco
para mudar a face do Estado ou do
país que morrerei lendo censos em
que os "mas" superam, desgraçadamente, os progressos.
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