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São Paulo, quinta-feira, 04 de dezembro de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

Todo cuidado é pouco

BRASÍLIA - Diante das dúvidas quanto ao governador petista Flamarion Portela (RR), vale arriscar algumas comparações recentes.
Articulado no fim da ditadura militar, numa tentativa de se transformar na "direita decente", o PFL foi inchando, inchando, inchando. Primeiro, para enfrentar o poderoso PMDB do governo Sarney. Depois, para se manter no poder. E, enfim, para não ser engolido pelo PSDB no governo FHC. Deu no que deu.
Foi numa dessas que filiou o então senador Gilberto Miranda (AM). ACM queria, para ter maioria no Senado. Bornhausen não queria, porque não confiava muito em Miranda -e até reclamou da idéia num jantar. ACM falou mais alto: "Jantar que eu não vou não vale". Não valeu. Miranda virou pefelista.
Foi numa outra dessas que o PFL agasalhou o então governador Orleir Cameli e a sua turma de deputados do Acre. Viu-se depois (ou apenas confirmou-se) quem eram os caras. Cameli foi flagrado com muamba no avião oficial e cheio de CPFs (para que seria?!). Hildebrando Paschoal deixou de ser deputado, virou o "maníaco da motosserra" e está preso. O PFL ficou com a fama.
O poder atrai, os partidos no poder incham -e se deturpam. Quando vão ver, é tarde. É esse tipo de reflexão que o PT no governo tem a chance de fazer a partir das suspeitas de que Portela não só manteve como ampliou o esquema de "gafanhotos" para comer os salários do Estado.
O PT não é o PFL. Mas é da "esquerda decente" e já convive com as naturais dificuldades de adaptação ao poder, à administração, a uma prática bem diferente do discurso de oposição. O maior mal que pode fazer a si mesmo é juntar a tudo isso a adesão de quem não tem nada a ver com os princípios do partido. Pela quantidade, arrisca-se a perder no principal: a qualidade.
A expulsão de Heloísa Helena pode até fazer sentido para eles. A inclusão de gente como Flamarion Portela nem tanto. Somando as duas coisas, a conta acaba dando errado.


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