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ELIANE CANTANHÊDE
Todo cuidado é pouco
BRASÍLIA - Diante das dúvidas quanto ao governador petista Flamarion Portela (RR), vale arriscar algumas comparações recentes.
Articulado no fim da ditadura militar, numa tentativa de se transformar na "direita decente", o PFL foi
inchando, inchando, inchando. Primeiro, para enfrentar o poderoso
PMDB do governo Sarney. Depois,
para se manter no poder. E, enfim,
para não ser engolido pelo PSDB no
governo FHC. Deu no que deu.
Foi numa dessas que filiou o então
senador Gilberto Miranda (AM).
ACM queria, para ter maioria no Senado. Bornhausen não queria, porque não confiava muito em Miranda
-e até reclamou da idéia num jantar. ACM falou mais alto: "Jantar
que eu não vou não vale". Não valeu.
Miranda virou pefelista.
Foi numa outra dessas que o PFL
agasalhou o então governador Orleir
Cameli e a sua turma de deputados
do Acre. Viu-se depois (ou apenas
confirmou-se) quem eram os caras.
Cameli foi flagrado com muamba no
avião oficial e cheio de CPFs (para
que seria?!). Hildebrando Paschoal
deixou de ser deputado, virou o "maníaco da motosserra" e está preso. O
PFL ficou com a fama.
O poder atrai, os partidos no poder
incham -e se deturpam. Quando
vão ver, é tarde. É esse tipo de reflexão que o PT no governo tem a chance de fazer a partir das suspeitas de
que Portela não só manteve como
ampliou o esquema de "gafanhotos"
para comer os salários do Estado.
O PT não é o PFL. Mas é da "esquerda decente" e já convive com as
naturais dificuldades de adaptação
ao poder, à administração, a uma
prática bem diferente do discurso de
oposição. O maior mal que pode fazer a si mesmo é juntar a tudo isso a
adesão de quem não tem nada a ver
com os princípios do partido. Pela
quantidade, arrisca-se a perder no
principal: a qualidade.
A expulsão de Heloísa Helena pode
até fazer sentido para eles. A inclusão
de gente como Flamarion Portela
nem tanto. Somando as duas coisas,
a conta acaba dando errado.
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