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ELIANE CANTANHÊDE
Lula, Chávez e Fidel
BRASÍLIA - A política externa do governo Lula não começou com seu giro internacional e a passagem pela
Casa Branca. Começou na posse, com
dois movimentos singulares: George
W. Bush mandou Zoelick, o "sub do
sub do sub", enquanto Lula abriu seu
primeiro dia de trabalho com Hugo
Chávez e fechou com Fidel Castro.
Aliás, o assessor internacional de
Lula e do PT, Marco Aurélio Garcia,
só fez duas viagens depois da eleição:
uma à Venezuela, outra a Cuba.
Não é preciso ser um gênio para
perceber que os EUA tripudiaram na
posse de Lula e que Lula dá sinais
inequívocos de que seus principais interlocutores -e referências- serão
Fidel, o ditador, e Chávez, que rachou a Venezuela ao meio e está cai-não-cai. Ambos de esquerda.
Em comum, os três presidentes têm
a ousadia de tentar um modelo alternativo ao pensamento único ou Consenso de Washington. E ainda a radicalização do discurso social e de defesa da soberania do continente.
As diferenças, porém, são profundas. O projeto Chávez (ao contrário
do que se pensa) é consistente e viável. O problema é o messianismo de
Chávez, que imaginou governar em
confronto com a igreja, a academia,
a imprensa, a classe média, o empresariado e parte do sindicalismo. Em
Lula, o principal traço é justamente o
diálogo, a conciliação.
Quanto a Fidel, boas intenções
também não faltam. Faltam, sim,
atualização, modernidade, equipe,
perspectiva e inserção, entre outros
fatores fundamentais.
O que Lula tenta é identificar-se
com a imagem de esquerda dos dois
personagens internacionais mais
prestigiados na posse brasileira, mas
dando um salto de 40 anos à frente
do atual Fidel e depurando o projeto
de país comandado por Chávez dos
erros políticos do mesmo Chávez.
Dúvidas e mais dúvidas. Essa mágica é realmente possível? Onde encaixar Bush e o "sub do sub do sub" nesse contexto? E a mais fundamental:
se alguma coisa der errado, os opositores vão poder resgatar aquela história do "círculo do mal"?
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