|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MÁRIO MAGALHÃES
Lula, Gil e a marola
RIO DE JANEIRO - Se marola em copo d'água projeta o que será o mar
revolto, o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva pode vir a ser um timoneiro
de certa aptidão em horas de tempestade. Ele driblou com sucesso um iceberg que o ameaçou antes da posse.
Ao anunciar Gilberto Gil como futuro ministro da Cultura, Lula sabia
que irritaria um dos mais articulados
lobbies que o apoiou: o da auto-intitulada ""classe artística" (sic).
Pediu ao baiano que tentasse compor com os preteridos. Previa que a
ira seria ainda maior por Gil, além de
frustrar a gula de quem já falava em
convescotes como neoburocrata, não
ser do PT, mas do PV.
Começaram bem as conversas. Gil
daria a secretaria-executiva para o
PT e haveria paridade. Cada lado ficaria com metade dos cargos. Juntos,
defenderiam que as diretorias de
marketing das estatais, mecenas
maiores da cultura, fossem nomeadas em acordo com as empresas.
As negociações degringolaram na
sexta retrasada. Os petistas passaram
a querer tudo o que de fato contava.
Com um argumento: Gil tinha o fundamental, seria ministro. O baiano
resistiu. Ouviu que os interlocutores
falavam em nome de Lula. Interrompeu o encontro e foi para a reunião
ministerial do governo eleito.
No café da manhã da segunda, Lula disse a Gil que ele, como ministro,
tinha sinal verde para escolher quem
bem entendesse. Se conseguisse contemplar os petistas, tanto melhor.
E o que dizer, indagou o compositor, na reunião que teria em seguida
com a turma do PT? Lula perguntou
se ele já sabia que postos os insatisfeitos queriam. Resposta positiva, orientou: então não vá. Com o aval de Lula, Gil deixou os partidários do presidente esperando. Depois, deu os principais cargos para o PV, acomodou os
petistas e esfriou a crise.
Pode tanto vir a ser um bom como
um mau ministro. Já serviu para Lula ensaiar suas manobras no timão
para quando ondinha virar temporal
- tipo Furlan (Desenvolvimento)
versus Lessa (provável BNDES).
Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: Lula, Chávez e Fidel Próximo Texto: Antônio Ermírio de Moraes: Ajude a nação estudando muito Índice
|