|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Ajude a nação estudando muito
O novo ministro da Educação
herdou uma situação educacional muito melhor do que a recebida
pelo ex-ministro Paulo Renato Sousa,
mas muito aquém daquilo de que o
Brasil precisa.
O ex-ministro trabalhou oito anos
na mesma pasta. Essa estabilidade foi
um ganho. Os avanços foram inegáveis. As estatísticas educacionais melhoraram, o que permitiu um controle
mais rígido do sistema de ensino.
Houve uma grande redução da intermediação, o que facilitou a chegada
das verbas públicas às escolas. O número de matrículas aumentou em todos os níveis, destacando-se o fato de
97% das crianças entre 7 e 14 anos estarem na escola.
Apesar de tudo isso, a caminhada a
ser percorrida é enorme. Segundo
pesquisas divulgadas pelo Ministério
da Educação no final de 2002, a qualidade da educação brasileira é ainda
muito baixa, e a aprendizagem dos
alunos é limitadíssima.
Continua grande a parcela de alunos
que, mesmo estando na 4ª série, não
consegue resolver operações de soma
e de subtração com até três algarismos
-um escândalo! No mesmo caso estão os que não conseguem interpretar
textos elementares. Quando solicitados a ler uma página de revista, os alunos entendem apenas as mensagens
explícitas dos textos publicitários, mas
não compreendem o significado da
matéria publicada naquela página
nem, muito menos, uma peça de literatura. É um quadro triste, pois o
mundo moderno exige muito mais do
que isso para que as pessoas possam
trabalhar e viver.
Vários fatores interferem na aprendizagem: as condições da família do
aluno, a educação dos pais, o equipamento da escola e a qualidade dos
professores, entre outros.
No que tange à situação familiar,
apesar de 97% das crianças estarem na
escola, entre as que pertencem a famílias em que a renda per capita é de até
meio salário mínimo o atraso escolar
(a defasagem entre idade e série) é
muito maior do que entre as demais.
Por exemplo: entre as que têm 14 anos
e pertencem ao primeiro grupo, 85%
estão atrasadas. Entre as que estão no
segundo grupo, 30% estão defasadas
-o que já é muito.
O que pesa mais nesse quadro? A
mesma pesquisa indica que a situação
socioeconômica e educacional da família pesa cerca de 70%, e a das escolas, 30%. Nos Estados Unidos e no Canadá, o peso desses fatores é de apenas
6% -o restante (94%) depende da escola. Naqueles países, a situação da família é propícia à aprendizagem. Uma
grande parte dessa aprendizagem se
dá pela ação continuada de pais educados, que acompanham a vida dos filhos na escola e ajudam a desenvolver
neles o importante hábito da leitura.
No Brasil, a busca da boa educação
exige uma ação com as famílias e as escolas. Educar é uma arte demorada.
Continuidade e seriedade são fundamentais. Os programas Bolsa-Escola
(para ajudar as famílias) e Comunidade Solidária (para alfabetizar os adultos) precisam continuar e até serem
ampliados para que se possa acabar o
que foi tão bem começado.
Ajudar o Brasil estudando muito é a
melhor maneira de nos tornarmos
uma nação grande e respeitada.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Mário Magalhães: Lula, Gil e a marola Próximo Texto: Frases
Índice
|