São Paulo, quarta-feira, 05 de janeiro de 2005

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MARCOS AUGUSTO GONÇALVES

Centrão 1 x 0 Serra

SÃO PAULO - O fato é que, em linguagem futebolística, o prefeito José Serra levou uma bola entre as pernas e sofreu um gol contra logo no início do jogo ao ver seu candidato Ricardo Montoro ser derrotado pelo "correligionário" Roberto Tripoli na eleição para a presidência da Câmara Municipal. Culpar o PT pelo ocorrido é conveniente, pois relembra ao governo federal o compromisso tácito da reciprocidade, princípio básico dos acertos de bastidores da "transição civilizada".
Está certo que o PT não foi "fair", pois, mesmo contando com uma bancada igual à do PSDB, conspirou para que o Executivo não concretizasse suas pretensões -desrespeitando as regras do jogo, que não estão escritas, mas são claras: o partido com maior bancada faz o presidente, valendo, em caso de empate nesse quesito, a voz das urnas na eleição majoritária. É verdade também que o petismo capciosamente pode dizer que votou num político do partido governista -e Tripoli, por sua vez, que evitou uma derrota pior.
Malandragens à parte, certo é que dificilmente o golpe teria acontecido se os articuladores políticos do PSDB ao menos controlassem seu próprio partido -deficiência, aliás, que o tucanato costuma apontar no PT, de fato sempre às voltas com seus dissidentes e "traidores".
Dois personagens importantes nesse palco são o vereador José Aníbal, ex-presidente do PSDB, e o chamado centrão -o coro fisiológico que conduz o espetáculo sob o comando de Milton Leite (PMDB), Antonio Carlos Rodrigues (PL) e Celso Jatene (PTB). Aníbal, o vereador mais votado da cidade, foi preterido na sua pretensão de presidir a Câmara e não parecia muito desolado ou surpreso com o que se passou. Já o centrão, claro, é só alegria com as perspectivas de vender facilidades para solucionar a dificuldade que criou.
Especula-se até que ponto o problema paulistano irá atrapalhar os planos do PT para o Legislativo federal. O abalo de São Paulo já está fazendo marola, mas parece difícil que origine um tsunami capaz de varrer as conchas do Congresso.


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