São Paulo, quarta-feira, 05 de janeiro de 2005

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IGOR GIELOW

Quem vai perder

BRASÍLIA - Quem ganha com esse imbróglio petista-tucano envolvendo os Legislativos paulistano e federal é questão em aberto, a ser respondida talvez no próximo round eleitoral. Já quem tende a perder é certo: os eleitores, em especial os de São Paulo.
Na verdade, interessa pouco ao cidadão comum o nome que presidirá a Câmara dos Deputados -exceto, claro, na hipótese da ausência definitiva de presidente e vice. A Casa, assim como o Senado, funciona quase sempre na base de acordos, consensos. É só ver a enxurrada de aprovações de última hora, significativamente chamadas de "simbólicas" no jargão legislativo, no fim do ano.
Desde a redemocratização, houve presidentes da Câmara bons, medíocres e ruins. Para o rito legislativo, praticamente tanto faz. Ele tem uma vida própria, geralmente ditada pelo interesse do Executivo -85% dos principais projetos aprovados em 2004 vieram da cozinha do Planalto.
Com o casuísmo da reeleição enterrado, voltamos ao ramerrame de toda troca de Mesa, com as contestações de praxe. A dificuldade do PT de fazer valer sua posição de maioria deverá ser apenas temporária, ainda que salte aos olhos a falta de nomes no partido capazes de gerar consenso.
Sem nenhum juízo de mérito pessoal, os nomes petistas na mesa não são exatamente gregários. Vejamos o candidato oficial, Luiz Eduardo Greenhalgh. Será curioso ver o ativista pró-MST presidindo uma sessão para debater crédito agrícola com 150 ruralistas bufando em seu cangote.
Mas a novidade é a troca de fogo com a Câmara Municipal de São Paulo. O precedente é perigoso. Vereadores conflagrados numa Casa dividida funcionam de forma diferente de deputados amaciados por emendas orçamentárias num plenário com maioria governista. Na capital paulista, além disso, o escrutínio público é muito maior, pela proximidade do fórum com o eleitorado.
A radicalização pode levar a uma paralisia que interessará a alguns em ambos os lados, mas dificilmente será útil àqueles que os colocaram lá.


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