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CARLOS HEITOR CONY
Cidade fantasma
RIO DE JANEIRO - Semana passada, cheguei ao Galeão, vindo de Roma.
Antes, havia enfrentado o Leonardo
da Vinci, o aeroporto romano. Fizera
escala em Frankfurt e São Paulo. A
impressão que tive, ao olhar pela janelinha do MD-11, foi a de chegar a
uma cidade fantasma. Nada parecia
existir além da imensa estrutura de
concreto armado. Nem mesmo uma
vila, um aglomerado de casas e vidas.
O contraste com os aeroportos anteriores era sinistro, e para mim, carioca militante, doloroso. Era como se tivesse vindo de um outro mundo, pessoas apressadas, cheias de sacolas coloridas, que a semana intermediava o Natal e o Ano Novo.
Difícil acreditar que naquele sarcófago houvesse alguém esperando por
alguém. O avião pousara, por engano
de rota, num deserto.
Como qualquer um, já sabia que o
Rio se esvaziava. No centro da cidade, edifícios modernos estão com andares desocupados, empresas que se
mandaram para outras cidades ou
deixaram de existir por falta de mercado.
A opinião generalizada atribui à
violência o atual abandono do Rio. É
possível. Mas existem cidades tão ou
mais violentas. Em Miami, há hotéis
que só deixam os hóspedes saírem à
noite em companhia de seguranças.
Após a hora do rush, andar de metrô
em Paris ou Nova York é uma temeridade. Em Madri, um irmão foi assaltado na Gran Via, ficou sem dólares e quase sem o braço -sendo médico, passou um ano sem exercer seu
ofício nas salas de cirurgia.
Pode ser que a violência no Rio seja
maior em quantidade e profundidade. Mas a causa da quarentena decretada contra a cidade parece ser a
berrante publicidade contrária, aqui
e no exterior. Na véspera do Natal,
em Roma, um grupo de rapazes esquartejou um mendigo em Óstia,
quase no mesmo local onde Pier Paolo Pasolini foi assassinado. Nenhuma
linha na imprensa mundial. Se fosse
aqui no Rio, haveria editorial até no
"Osservatore Romano".
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