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DINHEIRO PELO BURACO
Não é apenas por ser tardio e
eleitoreiro que o plano do governo federal para recuperar 26 mil
km da malha rodoviária brasileira
suscita desconfiança. A "operação
tapa-buraco", com custo estimado
em R$ 440 milhões, constitui um terreno dos mais favoráveis à subtração
de dinheiro do contribuinte.
O mau estado das rodovias brasileiras é notório. Além de desperdiçar vidas em acidentes que favorece, a malha esburacada é um gargalo importante para o crescimento econômico.
Mas, a julgar pelo que foi anunciado
pelo governo, os reparos serão conduzidos ao arrepio dos mais elementares controles públicos.
Nos trechos onde já há empreiteiras efetuando algum tipo de trabalho, serão feitos aditamentos de contratos para que as empresas realizem
os consertos. Nas estradas onde não
há construtoras em ação, serão realizados contratos emergenciais, que
dispensam concorrência pública para a escolha dos empreiteiros. Nesse
último caso estão, segundo o governo, algo como 7.000 km, o equivalente a quase toda a costa brasileira.
São conhecidas as brechas para falcatruas abertas por aditamentos em
acordos já existentes. Já os contratos
emergenciais, que dão ao Executivo
federal o poder de contratar quem
bem entender em pleno ano eleitoral, estes convidam à corrupção.
O estado calamitoso das estradas
brasileiras não surgiu hoje. O governo teve três anos para atacar o problema. Além de ter investido muito
pouco, não privatizou nenhuma rodovia. Demonstrou toda a sua incapacidade administrativa nesse tema.
Nada justifica que agora venha espancar princípios republicanos pela
súbita descoberta do caráter "emergencial" do problema.
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva já deu mostras abundantes de desrespeito às fronteiras
entre público e privado, entre partido
e Estado. Também por isso, é indispensável que órgãos de controle, como o Ministério Público, o Legislativo e o Judiciário, acompanhem zelosamente a "operação tapa-buracos".
Para que a corrupção de hoje não enseje os "recursos não-contabilizados" do futuro.
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