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ELIANE CANTANHÊDE
Dinheiro voando
BRASÍLIA - O ministro de Negócios Estrangeiros da Austrália, Alexander
Downer, fazia uma pergunta incômoda ontem, em Brasília, antes de
sair dirigindo um carro "flex" (a álcool e a gasolina): "Seu carro é a álcool?". Diante das negativas encabuladas, engatava a segunda: "Por
quê?"
Um dos maiores objetivos de Downer, que veio passar 24 horas em Brasília, é exatamente a importação da
tecnologia do álcool combustível.
Ficou evidente que o ministro australiano andou perguntando às pessoas erradas, porque, no mesmo dia,
houve um corre-corre no governo por
causa dos aumentos dos preços do álcool: 28% em 2005 e 6% já nestes primeiros dias do novo ano.
Sinal de que as pessoas estão comprando, sim, os carros "flex" -que,
aliás, já são mais de 70% dos veículos
montados no país. A questão é que
esse estouro na produção dos carros
não corresponde à produção do álcool. Resultado óbvio: sobe o preço.
Você aí já ouviu falar em falta de
planejamento? É a própria. Agora vai
ficar a velha guerrinha: o governo diz
que não há motivo para o aumento,
a indústria alega que a entressafra da
cana-de-açúcar vem aí, as montadoras lavam as mãos -e continuam
vendendo bem.
Como sempre, quem paga o pato
-ou melhor, o combustível mais caro- é o consumidor, que entrou na
onda e tem que ajustar as suas próprias contas. Novidade vai ser se a
Austrália realmente se interessar em
fazer mais negócios com o Brasil.
Uma das especialidades dela é fazer
dinheiro. Mas dinheiro mesmo: as cédulas de plástico, que são as mais
modernas, resistentes e duradouras
do mercado. Se as negociações evoluírem, o Brasil poderá renovar toda
a sua família de notas brevemente,
capacitando-se a receber a tecnologia
e a matéria-prima australianas -e a
passar a exportar notas.
Já imaginou? O Brasil exportar a
tecnologia do álcool combustível é
até razoável. Mas o Brasil exportar
dinheiro?! Era só o que nos faltava.
@ - elianec@uol.com.br
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