São Paulo, quinta-feira, 05 de janeiro de 2006

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ELIANE CANTANHÊDE

Dinheiro voando

BRASÍLIA - O ministro de Negócios Estrangeiros da Austrália, Alexander Downer, fazia uma pergunta incômoda ontem, em Brasília, antes de sair dirigindo um carro "flex" (a álcool e a gasolina): "Seu carro é a álcool?". Diante das negativas encabuladas, engatava a segunda: "Por quê?"
Um dos maiores objetivos de Downer, que veio passar 24 horas em Brasília, é exatamente a importação da tecnologia do álcool combustível.
Ficou evidente que o ministro australiano andou perguntando às pessoas erradas, porque, no mesmo dia, houve um corre-corre no governo por causa dos aumentos dos preços do álcool: 28% em 2005 e 6% já nestes primeiros dias do novo ano.
Sinal de que as pessoas estão comprando, sim, os carros "flex" -que, aliás, já são mais de 70% dos veículos montados no país. A questão é que esse estouro na produção dos carros não corresponde à produção do álcool. Resultado óbvio: sobe o preço.
Você aí já ouviu falar em falta de planejamento? É a própria. Agora vai ficar a velha guerrinha: o governo diz que não há motivo para o aumento, a indústria alega que a entressafra da cana-de-açúcar vem aí, as montadoras lavam as mãos -e continuam vendendo bem.
Como sempre, quem paga o pato -ou melhor, o combustível mais caro- é o consumidor, que entrou na onda e tem que ajustar as suas próprias contas. Novidade vai ser se a Austrália realmente se interessar em fazer mais negócios com o Brasil.
Uma das especialidades dela é fazer dinheiro. Mas dinheiro mesmo: as cédulas de plástico, que são as mais modernas, resistentes e duradouras do mercado. Se as negociações evoluírem, o Brasil poderá renovar toda a sua família de notas brevemente, capacitando-se a receber a tecnologia e a matéria-prima australianas -e a passar a exportar notas.
Já imaginou? O Brasil exportar a tecnologia do álcool combustível é até razoável. Mas o Brasil exportar dinheiro?! Era só o que nos faltava.

@ - elianec@uol.com.br


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