São Paulo, quinta-feira, 05 de janeiro de 2006

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CARLOS HEITOR CONY

Anatomia das crises

RIO DE JANEIRO - Mais uma vez contrario a maioria dos entendidos em crises políticas. Pelo que ouço e vejo, nunca houve crise maior do que a provocada pelos escândalos do PT e do governo. Dou de barato que se trata de uma crise assombrosa, que fez e talvez ainda faça estragos por aí, sendo que o maior deles já foi feito e dificilmente será reparado: a quebra da vestalidade do Partido dos Trabalhadores. Por extensão, a perda de substância moral de seu fundador e presidente de honra, que, por acaso, é o atual presidente da República.
A referência obrigatória para avaliar as crises mais recentes é a que detonou Collor. Teve ela um elemento diferente da atual lambança na vida pública. A crise de 1992 não envolveu um partido articulado e imenso como o PT. Limitou-se a um grupo de pessoas desvinculadas do eixo nacional. Gente sem ideologia, substância partidária, militância em setores vitais da sociedade, biografia de lutas. A crise de agora não é de um grupo, como no caso de Collor, mas de uma parcela social que estimam em 30% do eleitorado. Coisa pra burro.
Por isso mesmo, em 1992, foi mais fácil derrubar o presidente e seus companheiros de aventura. Com Lula, o buraco é mais em cima e, por isso, além de mais difícil, mais devastador em termos de corrupção política, econômica e eleitoral.
Mas não chega a ser a maior crise do país. Não gerou um suicídio de presidente -e que presidente!- como em 1954. Nem a possibilidade de uma guerra civil, que era iminente em 61 e em 64, quando trincheiras militares precisaram ser fechadas (Tancredo Neves dizia que seu maior trabalho fora "fechar trincheiras após a renúncia de Jânio Quadros, em 1961").
A crise atual é grave, mas está se estendendo demais e pegará agora um ano eleitoral, quando alianças serão feitas e compromissos serão assumidos. Somente um fato novo e de proporções monumentais impedirá a pizza (também monumental) que está em preparo.


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