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CARLOS HEITOR CONY
Anatomia das crises
RIO DE JANEIRO - Mais uma vez contrario a maioria dos entendidos
em crises políticas. Pelo que ouço e
vejo, nunca houve crise maior do que
a provocada pelos escândalos do PT e
do governo. Dou de barato que se trata de uma crise assombrosa, que fez e
talvez ainda faça estragos por aí, sendo que o maior deles já foi feito e dificilmente será reparado: a quebra da
vestalidade do Partido dos Trabalhadores. Por extensão, a perda de substância moral de seu fundador e presidente de honra, que, por acaso, é o
atual presidente da República.
A referência obrigatória para avaliar as crises mais recentes é a que detonou Collor. Teve ela um elemento
diferente da atual lambança na vida
pública. A crise de 1992 não envolveu
um partido articulado e imenso como o PT. Limitou-se a um grupo de
pessoas desvinculadas do eixo nacional. Gente sem ideologia, substância
partidária, militância em setores vitais da sociedade, biografia de lutas.
A crise de agora não é de um grupo,
como no caso de Collor, mas de uma
parcela social que estimam em 30%
do eleitorado. Coisa pra burro.
Por isso mesmo, em 1992, foi mais
fácil derrubar o presidente e seus
companheiros de aventura. Com Lula, o buraco é mais em cima e, por isso, além de mais difícil, mais devastador em termos de corrupção política,
econômica e eleitoral.
Mas não chega a ser a maior crise
do país. Não gerou um suicídio de
presidente -e que presidente!- como em 1954. Nem a possibilidade de
uma guerra civil, que era iminente
em 61 e em 64, quando trincheiras
militares precisaram ser fechadas
(Tancredo Neves dizia que seu maior
trabalho fora "fechar trincheiras
após a renúncia de Jânio Quadros,
em 1961").
A crise atual é grave, mas está se estendendo demais e pegará agora um
ano eleitoral, quando alianças serão
feitas e compromissos serão assumidos. Somente um fato novo e de proporções monumentais impedirá a
pizza (também monumental) que está em preparo.
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