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DEMÉTRIO MAGNOLI
Todos os homens
do presidente
"Todo o episódio foi como
uma facada nas minhas costas". Em entrevista ao programa "Fantástico", Lula definiu assim o escândalo do "mensalão", reiterando o tema
do traidor oculto que alterna com o do
complô das elites para compor a narrativa política vulgar oferecida há meses aos cidadãos. O presidente não nomeia os "traidores" nem identifica as
"elites", pois está condenado ao jogo
da prestidigitação. Ele precisa enganar
o povo e, simultaneamente, pagar as
prestações do silêncio dos operadores.
Delúbio Soares, o "homem de Lula",
foi selecionado como ovelha de sacrifício. Na sua defesa, lida perante o Diretório Nacional do PT, Delúbio acusou os que o expulsavam de pretender
começar "uma nova história" com base "numa mentira": a versão de que
agiu à revelia da direção do partido.
Suas conclusões, dirigidas a Lula, incluíram uma ameaça velada ("não
traí") e uma garantia ("não sou um
delator"). Como, nesse meio, toda garantia é condicional, a direção do partido continua a financiar uma famosa
banca de advogados dedicada à defesa
do militante expulso.
Valdemar Costa Neto, o presidente
do PL, tornou-se um dos homens do
presidente quando foi selada a aliança
eleitoral pela qual José Alencar aceitou
o cargo de vice na chapa de Lula. Na
ocasião, não se discutiram idéias, apenas dinheiro. Costa Neto, o interlocutor da direção petista no negócio, acabaria flagrado como destinatário de
volumosos recursos do "mensalão" e
renunciou para fugir à cassação. Ele
sabe demais e não é fiel a Lula. O custo
de seu silêncio é amortizado por meio
de nomeações de protegidos para o
Dnit, o órgão do Ministério dos
Transportes que controla as rodovias.
O publicitário Duda Mendonça, um
homem do presidente desde a campanha eleitoral, confessou na CPI operar
uma offshore em paraíso fiscal, que
funcionou como destino de recursos
intermediados por Marcos Valério. As
transações contêm os indícios típicos
de crimes de sonegação fiscal, evasão
de divisas e, talvez, lavagem de dinheiro. Duda Mendonça perdeu a conta
publicitária da Presidência, mas seu
contrato milionário com a Petrobras
foi renovado por mais um ano. O voto
de silêncio não consta da letra do contrato, mas há coisas que não precisam
ser escritas.
O governo Lula adotou a prática inédita de centralizar a supervisão de toda a publicidade oficial num único homem. Luiz Gushiken, o chefão da Secom, figura como a peça-chave dos
contratos, com evidências clamorosas
de superfaturamento, firmados pelo
governo e pelas estatais com as agências de publicidade. Segundo o ex-diretor do Banco do Brasil Henrique
Pizzolato, suas digitais estão impressas na transferência fraudulenta de dinheiro público para Marcos Valério.
Gushiken perdeu a Secom, mas continua no Planalto, como assessor presidencial, e conserva sua influência sobre os diretores de bilionários fundos
de pensão. Ele não falará.
A grande incógnita é José Dirceu, o
ministro plenipotenciário que não
agia "sem o conhecimento e o consentimento" do presidente. Ele aceitou
como inevitáveis a perda da Casa Civil
e até a do mandato. Mas Lula brinca
com fogo desde que decidiu subtrair-lhe o controle sobre a máquina do PT,
enviando uma cavalaria de ministros
para tomar o partido de assalto.
O limite de José Dirceu é o desterro
da política.
Demétrio Magnoli escreve às quintas-feiras
nesta coluna.
@ - magnoli@ajato.com.br
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