São Paulo, quarta-feira, 05 de fevereiro de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES O governo, a ONU e as "metas do milênio"
ROSEMARY BARBER-MADDEN
Uma análise concentrada do programa do governo Lula permite detectar vários pontos de convergência entre as propostas ali apresentadas e as "metas do milênio" defendidas pela ONU. A preocupação com o combate à pobreza e à fome, manifestada na primeira meta, coincide com o primeiro movimento da equipe do atual presidente brasileiro. A segunda meta, voltada à alfabetização de todas as crianças, assemelha-se igualmente com a proposta brasileira de erradicar o analfabetismo. O combate às desigualdades econômicas e sociais para a conquista da cidadania por parte de todos os brasileiros também coincide com a visão da ONU sobre equidade social, sexual e étnica. Uma leitura atenta de cada uma das metas não deixa dúvidas sobre as coincidências de prioridades. A agenda é comum. É evidente, porém, que o estabelecimento de metas e prioridades não basta para solucionar os graves problemas enfrentados pelo Brasil. É imprescindível encontrar soluções criativas para operacionalizar os objetivos. Deve-se construir um pacto social que vá além da defesa intransigente de interesses individuais ou de pequenos grupos. De acordo com a Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento, realizada em 1994, no Egito, questões populacionais como urbanização, habitação, migração, raça, gênero, envelhecimento da população, juventude, saúde, educação, trabalho, meio ambiente, fecundidade e mortalidade possuem inter-relações que contribuem de forma positiva ou negativa para o desenvolvimento sustentável de um país. À luz dessas questões, o fortalecimento da capacidade técnica e institucional do governo, das organizações sociais e das instituições acadêmicas e o estímulo à colaboração institucional no sentido de contribuir, por meio de estudos e pesquisas para a formulação de políticas públicas em relação às questões populacionais, são parte integrante da ação que pode ser desenvolvida na parceria entre governo brasileiro e ONU. Se houver vontade política, espaço para a criatividade e disposição a sacrifícios individuais em nome de um ideal social, não resta dúvidas de que o Brasil avançará no campo do desenvolvimento humano sustentável e alcançará, se não todas, ao menos as principais "metas do milênio". Até 2015, o Brasil tem 12 anos pela frente. Os próximos quatro poderão ser decisivos. Rosemary Barber-Madden, 62, doutora em administração pública pela Universidade Temple (EUA) e professora-emérita da Universidade Columbia (EUA), é representante no Brasil do Fundo de População das Nações Unidas. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Marly A. Cardone: Previdência não é só aposentadoria Índice |
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