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SEM MEDO DA CPI
Diversos argumentos têm sido esgrimidos em apoio às
movimentações do governo, até aqui
bem sucedidas, para bloquear a criação de uma CPI que investigue o caso
Waldomiro Diniz.
Alega-se que muitos dos proponentes não reúnem os requisitos
morais para exigir apurações, uma
vez que contribuições irregulares para campanhas e pedidos de propina
são fatos corriqueiros na política nacional. Uma investigação parlamentar nessas circunstâncias estaria condenada a ser um ato farisaico, propenso, em ano eleitoral, a se tornar
palco de explorações demagógicas.
Acabaria por paralisar as votações no
Congresso, abalar os mercados e
ameaçar a governabilidade.
Ora, dar crédito a tais raciocínios
equivaleria a rebaixar a exigência de
fiscalização do poder, admitindo um
regime mais opaco de administração
da coisa pública. Não se trata aqui de
um torneio moralista, no qual apenas impolutos, imaculados e virtuosos parlamentares estariam em condições de propor ou coordenar um
inquérito. Estamos no terreno da política, no qual a disputa é parte de um
jogo regulado por normas e instituições tanto quanto possível republicanas e transparentes, que asseguram
deveres e direitos às diversas partes.
Não foi um representante da oposição, mas sim do governo, que se viu
atingido pelas revelações. E não é a
um governo qualquer, mas àquele
cujo partido arvora-se em paladino
da ética, que a CPI ofereceria a oportunidade de um esclarecimento público. É o que a maioria dos brasileiros, aliás, deseja -conforme mostrou recente pesquisa Datafolha.
Pode-se argüir que o trabalho policial seria suficiente. A questão é que,
dadas as implicações políticas do
episódio, a averiguação parlamentar
adicionaria ao processo uma saudável dose de independência, afastando as naturais apreensões acerca de
uma investigação do Executivo conduzida por um órgão a ele vinculado.
Quanto aos transtornos políticos e
às eventuais repercussões negativas
para a economia, são de fato indesejáveis, mas muitas vezes é preciso pagar um preço para assegurar a boa
condução dos interesses públicos. A
agenda da República, nesse caso, pode não ser a mesma dos mercados.
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