São Paulo, sexta-feira, 05 de março de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELIANE CANTANHÊDE

A CPI das CPIs

BRASÍLIA - Continua sendo um mistério para quem está longe e um segredo de polichinelo para quem está dentro do Congresso, o porquê de senadores e deputados assinarem requerimentos convocando CPIs num dia, tirarem no outro e, às vezes, até recolocarem no terceiro.
Aqui entre nós, o caso é o seguinte: colocada na pauta de discussões (ou de entrevistas à imprensa) a possibilidade de uma CPI, todo mundo se mobiliza. O governo, para impedir. A oposição, para instalar. E a massa que joga nos dois lados, para "ser convencida". E tome favores!
A CPI dos Bingos conseguiu número mais do que suficiente de assinaturas, mas não vai ter apoio dos líderes governistas nem indicação de integrantes. Ou seja: é natimorta, mas ficará pairando feito fantasma sobre o Congresso. Aliás, sobre o governo. À custa de desgaste e de troca-troca.
O mais curioso, nesta CPI, é o vai-não-vai da própria bancada do governo, especialmente do PT. Das 36 assinaturas, 13 são governistas e, dessas, quatro do próprio PT de Lula. E, entre os que retiraram de última hora, há três do PT e um do PMDB (Hélio Costa, de Minas).
Os caras assinam ou para serem "fiéis ao passado do PT", ou para demonstrar "independência" diante do Planalto, ou, o que é comum, para dar um troco. Falar em CPI hoje é falar de CPI contra José Dirceu. Pode ser sobre bingo, sobre Waldomiro, sobre chocolate em pó ou pneu usado.
Cristovam Buarque (DF) mandou dizer do Japão: "Se a bancada toda retirar [as assinaturas], eu retiro". Como só parte retirou, lá está seu nome pedindo a CPI. Ao cair do MEC, ele estava danado com Dirceu.
No meio do tiroteio, a ironia correta do tucano mais governista, senador Siqueira Campos (TO): "O PT mostra que tem uma longa história de gerar crises, mas nenhuma experiência em debelá-las".
É verdade. A atuação do PT desde a sexta-feira 13, em que a crise Waldomiro explodiu, tem sido um desastre. O partido está aprendendo todas as espertezas rapidamente. Mas ainda falta muito a aprender.


Texto Anterior: Lisboa - Clóvis Rossi: Futebol, a tribo e o globo
Próximo Texto: Rio de Janeiro - Marcelo Beraba: Em frangalhos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.