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ELIANE CANTANHÊDE
A CPI das CPIs
BRASÍLIA - Continua sendo um mistério para quem está longe e um segredo de polichinelo para quem está
dentro do Congresso, o porquê de senadores e deputados assinarem requerimentos convocando CPIs num
dia, tirarem no outro e, às vezes, até
recolocarem no terceiro.
Aqui entre nós, o caso é o seguinte:
colocada na pauta de discussões (ou
de entrevistas à imprensa) a possibilidade de uma CPI, todo mundo se
mobiliza. O governo, para impedir. A
oposição, para instalar. E a massa
que joga nos dois lados, para "ser
convencida". E tome favores!
A CPI dos Bingos conseguiu número mais do que suficiente de assinaturas, mas não vai ter apoio dos líderes
governistas nem indicação de integrantes. Ou seja: é natimorta, mas ficará pairando feito fantasma sobre o
Congresso. Aliás, sobre o governo. À
custa de desgaste e de troca-troca.
O mais curioso, nesta CPI, é o vai-não-vai da própria bancada do governo, especialmente do PT. Das 36
assinaturas, 13 são governistas e, dessas, quatro do próprio PT de Lula. E,
entre os que retiraram de última hora, há três do PT e um do PMDB (Hélio Costa, de Minas).
Os caras assinam ou para serem
"fiéis ao passado do PT", ou para demonstrar "independência" diante do
Planalto, ou, o que é comum, para
dar um troco. Falar em CPI hoje é falar de CPI contra José Dirceu. Pode
ser sobre bingo, sobre Waldomiro, sobre chocolate em pó ou pneu usado.
Cristovam Buarque (DF) mandou
dizer do Japão: "Se a bancada toda
retirar [as assinaturas], eu retiro".
Como só parte retirou, lá está seu nome pedindo a CPI. Ao cair do MEC,
ele estava danado com Dirceu.
No meio do tiroteio, a ironia correta do tucano mais governista, senador Siqueira Campos (TO): "O PT
mostra que tem uma longa história
de gerar crises, mas nenhuma experiência em debelá-las".
É verdade. A atuação do PT desde a
sexta-feira 13, em que a crise Waldomiro explodiu, tem sido um desastre.
O partido está aprendendo todas as
espertezas rapidamente. Mas ainda
falta muito a aprender.
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