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CLÓVIS ROSSI
Futebol, a tribo e o globo
LISBOA - Está para sair um livro de Franklin Foer, editor-assistente da
revista norte-americana "New Republic", em que ele defende a ousada tese de que não há nada mais globalizado que o futebol.
No número mais recente da trimestral "Foreign Policy", Foer faz um resumo do livro para dizer que, "de
muitas maneiras, o belo jogo (o futebol) revela muito mais sobre os limites da globalização que sobre suas possibilidades".
Pode ser, mas o futebol globalizado
está se tornando um negócio tão formidável que o faturamento do clube
mais rico do mundo, o inglês Manchester United, bateu, na temporada
2002/03, na espetacular marca de
251,4 milhões (algo como R$ 905 milhões), dinheiro para fazer inveja a
qualquer empresa de setores mais
tradicionais.
O impacto do futebol é tamanho
que Lisboa está tomada pelos preparativos e pela propaganda para a Eurocopa, o torneio europeu de seleções, que começa em junho em Portugal. É impossível, mesmo para o
mais distraído que desembarque na
capital portuguesa, não entrar em
contato visual com alguma coisa relacionada ao torneio.
Os portugueses até exageraram: em
vez de simplesmente reformar, derrubaram estádios e construíram novos no lugar (ou ao lado, em alguns
casos). Isso deve ter ajudado o país a
começar a superar uma renitente desaceleração econômica.
É verdade que, aqui e ali, há resmungos sobre o quanto se poderia
fazer pela saúde e pela educação com
o dinheiro enterrado no cimento dos
estádios. Há igualmente comentários ranzinzas sobre a "cara" do Alvalade, o estádio do Sporting de Lisboa, que parece feito das mesmas pedrinhas do Borba Gato, que os paulistanos adoram odiar.
Mas aposto que, na hora em que
começarem a pipocar os turistas para ver os jogos, os portugueses reservarão os resmungos para Luiz Felipe
Scolari se ele não conseguir dar o título aos anfitriões.
Globalizado ou não, futebol ainda
é uma questão tribal.
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