São Paulo, sexta-feira, 05 de março de 2004

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CLÓVIS ROSSI

Futebol, a tribo e o globo

LISBOA - Está para sair um livro de Franklin Foer, editor-assistente da revista norte-americana "New Republic", em que ele defende a ousada tese de que não há nada mais globalizado que o futebol.
No número mais recente da trimestral "Foreign Policy", Foer faz um resumo do livro para dizer que, "de muitas maneiras, o belo jogo (o futebol) revela muito mais sobre os limites da globalização que sobre suas possibilidades".
Pode ser, mas o futebol globalizado está se tornando um negócio tão formidável que o faturamento do clube mais rico do mundo, o inglês Manchester United, bateu, na temporada 2002/03, na espetacular marca de 251,4 milhões (algo como R$ 905 milhões), dinheiro para fazer inveja a qualquer empresa de setores mais tradicionais.
O impacto do futebol é tamanho que Lisboa está tomada pelos preparativos e pela propaganda para a Eurocopa, o torneio europeu de seleções, que começa em junho em Portugal. É impossível, mesmo para o mais distraído que desembarque na capital portuguesa, não entrar em contato visual com alguma coisa relacionada ao torneio.
Os portugueses até exageraram: em vez de simplesmente reformar, derrubaram estádios e construíram novos no lugar (ou ao lado, em alguns casos). Isso deve ter ajudado o país a começar a superar uma renitente desaceleração econômica.
É verdade que, aqui e ali, há resmungos sobre o quanto se poderia fazer pela saúde e pela educação com o dinheiro enterrado no cimento dos estádios. Há igualmente comentários ranzinzas sobre a "cara" do Alvalade, o estádio do Sporting de Lisboa, que parece feito das mesmas pedrinhas do Borba Gato, que os paulistanos adoram odiar.
Mas aposto que, na hora em que começarem a pipocar os turistas para ver os jogos, os portugueses reservarão os resmungos para Luiz Felipe Scolari se ele não conseguir dar o título aos anfitriões.
Globalizado ou não, futebol ainda é uma questão tribal.


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