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CLÓVIS ROSSI
Decoro ou falta dele
SÃO PAULO - Frase do líder do PT
na Câmara Federal, Cândido Vaccarezza (SP), publicada na terça-feira pelo "Painel" desta Folha, é a
perfeita ilustração da política: "Não
pretendo assinar a CPI dos fundos
de pensão, proposta pelo PMDB,
porque CPI é um instrumento da
oposição".
Como sabe qualquer cidadão de
bem e qualquer político com um tico de espírito republicano (se é que
sobrou algum), CPI não é de governo, nem de oposição, nem de direita, nem de esquerda. É um instrumento para apurar irregularidades
e, idealmente, para corrigi-las, em
especial quando envolvem dinheiro público.
Assim sendo, qualquer governo
sério tem tanto interesse quanto
qualquer oposição -ou até mais-
em investigações que o ajudem a
sanar problemas.
Pena que seja necessário, no Brasil, escrever coisas que, em países
com instituições minimamente civilizadas, seriam consideradas de
uma ululante obviedade.
E é necessário porque, no Brasil,
políticos, com uma ou duas exceções, se tanto, não pensam no interesse público, do que dá prova, entre zilhões de outras, a frase de Vaccarezza. Para ele, fica claro que política é fazer investigações, quando
na oposição, e fugir delas, quando
no poder. Só.
É óbvio que, escravos dessa mentalidade, os políticos sejam, digamos, distraídos na defesa do interesse público.
Tão distraídos que deram ontem
a presidência da Comissão de Infraestrutura do Senado a Fernando
Collor de Mello, o único presidente
de uma república bananeira, como
o Brasil o foi durante tanto tempo,
que conseguiu a façanha de ser cassado por "falta de decoro".
Collor se elegeu ontem graças a
manobras do aliado, depois inimigo, agora aliado de novo, Renan Calheiros, aquele que teve de deixar a
presidência do Senado para não ser
cassado também por falta de decoro. Acho que está tudo explicado,
não?
crossi@uol.com.br
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