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ELIANE CANTANHÊDE
Foto rasgada
LOS ANGELES - Olhando daqui dos EUA, a foto de Lula, Chávez, Kirchner e, agora, Evo Morales é ainda
mais interessante, ou impressionante. Só falta Ollanta Humala, o candidato favorito à Presidência do Peru,
para um retrato pronto e acabado do
que ocorre na América do Sul.
A mesma foto foi feita na semana
passada, mas sem Evo Morales. Foi
quando Brasil, Venezuela e Argentina discutiram o supergasoduto de
US$ 23 bilhões, apelidado de "transpinel" por setores da Petrobras e chamado de "maluquice" por Morales.
Depois disso, o novo presidente boliviano abriu caminho a cotoveladas
e conseguiu espaço na foto dos "companheiros". Ele é o pivô da crise, mas
está só equilibrando, ou desequilibrando, a disputa entre os dois gigantes da região, Lula e Chávez.
Evo Morales enxota a brasileira
EBX, que já investiu US$ 50 milhões
de um total de US$ 330 milhões lá. E,
cem dias depois de assumir a Presidência do país, jogou o Exército nas
refinarias da Petrobras e ameaça expropriar os ativos da empresa, que
tem US$ 1,5 bilhão na Bolívia.
Lula ficou encurralado: não pode
cortar os 25 milhões de metros cúbicos de gás boliviano consumidos por
dia no Brasil nem romper com o país
mais pobre da região, o que seria incoerente com sua política externa.
Mas não tem como não reagir.
Do outro lado, o Brasil contribui
com algo em torno de 15% do PIB da
Bolívia, importa 80% de toda a sua
produção de gás, e os bolivianos não
têm tecnologia, nem mão-de-obra,
nem dinheiro para explorar o próprio gás e cobrir uma eventual falta
da Petrobras. É aí, neste ponto crucial, que entra Chávez, dando um
trunfo e uma saída estratégica para
Morales: se a Petrobras sai, a venezuelana PDVSA pode entrar.
A disputa é entre Lula e Morales,
mas quem brilha é Chávez, com seu
perfil guerreiro, seu petróleo, sua liderança e um novo dado: sua dubiedade em relação a Lula e ao Brasil.
Eles todos acabam negociando,
mas a foto já está rasgada.
@ - elianec@uol.com.br
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