São Paulo, sexta-feira, 05 de maio de 2006

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NELSON MOTTA

Nos braços do povo

RIO DE JANEIRO - Pesquisas recentes em Pernambuco mostram que Severino Cavalcanti -ele mesmo, que renunciou ao mandato para não ser cassado, que passou pelo vexame de ser desmentido em rede nacional pela apresentação do cheque do "mensalinho", que virou piada e deboche no país inteiro-, se a eleição fosse hoje, estaria eleito.
Esse é o homem que, no exercício da presidência da Câmara, comprovadamente recebeu dinheiro de um concessionário de serviços. Independente da perda do mandato, ou da "renúncia", trata-se de alguém acusado de usar função pública para receber vantagens, o que é crime. Pior ainda se no exercício da presidência da Câmara. Mas nada lhe acontece, visita o Congresso com freqüência, nomeia, cabala votos e verbas, faz o de sempre. Tem certeza absoluta da impunidade, está em plena campanha, provavelmente se dizendo vítima das "zelite" preconceituosas, porque é macho e nordestino.
Os eleitores de Severino, que, em troca de votos, recebem dele e de seus aliados esmolas, empregos e "boquinhas", por ignorância ou "esperteza" fingem que não sabem de nada. Só não sabem que é assim que perpetuam sua própria miséria. Até aí nada. Quem vota em Severino deve saber o estômago que tem, cada eleitor tem o representante que merece. O chato é que quem paga a conta é o resto do Brasil, pelos votos e vetos de Severino, por sua influência nefasta e sua gastança de dinheiro público.
Se isso acontece em Pernambuco, um dos Estados mais politizados do Brasil, imagine nos grotões. Não vamos nos iludir, apesar de tudo, seja qual for o presidente, ele e nós continuaremos nas mãos de 300 picaretas, que mudarão de nome ou de partido, mas sempre se parecerão -no figurino, na ignorância e na voracidade- com bandidos disputando "pontos" e "bocas".


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