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VALDO CRUZ
Se o vento mudar...
BRASÍLIA - Passada a euforia,
mais do que justa, pela obtenção do
"investment grade", o carimbo de
que somos bons pagadores e de que
o risco de calote é baixo por aqui, o
melhor a fazer é pôr os pés no chão.
Evitar o clima de que tudo agora é
diferente, de que tudo, de repente,
mudou, de que somos outro país.
O fato é que, apesar dos avanços,
somos ainda uma obra inacabada. E
o mesmo governo que fez o Brasil
ganhar o selo de país sério deixa escapar oportunidades que nos colocariam num outro patamar.
É o caso das contas públicas. Inegável que o país vem fazendo superávit primário, garantindo o pagamento da dívida pública, fundamental para obter o selo de investimento seguro. Só que trilhando um
caminho nada recomendável.
No segundo mandato, o governo
abriu seus cofres. Se por um lado estimulou os investimentos, o que é
salutar, de outro elevou e muito
suas despesas correntes, gastos que
poderiam ser evitados. Com isso, ficou no esquecimento aquela boa
idéia de evitar que as despesas públicas subissem mais do que o crescimento do PIB.
O que nos tem salvado dessa febre gastadora do presidente Lula é
que a arrecadação da União só tem
feito subir, mesmo sem a CPMF.
Salvação, por um lado, perdição,
por outro. Afinal, o governo bem
que poderia diminuir seu apetite
insaciável pelo seu, pelo meu, pelo
nosso dinheirinho de impostos.
Esse tipo de "ajuste fiscal", sustentado pelo vento a favor da economia, implica sérios riscos. Se a
brisa mudar de lado e o motor econômico do país esfriar, teremos
graves problemas de caixa pela
frente. O governo tem aumentado
despesas que, depois, são praticamente impossíveis de reduzir a curto prazo -como gastos com pessoal
e Previdência.
A novidade nessa novela é que até
economistas ligados ao presidente,
críticos severos da política do Banco Central, estão alertando que a
curva dos gastos públicos precisa
ser invertida. A dúvida é se Lula dará ouvidos a eles. Acho que não.
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