São Paulo, segunda-feira, 05 de maio de 2008

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VALDO CRUZ

Se o vento mudar...

BRASÍLIA - Passada a euforia, mais do que justa, pela obtenção do "investment grade", o carimbo de que somos bons pagadores e de que o risco de calote é baixo por aqui, o melhor a fazer é pôr os pés no chão. Evitar o clima de que tudo agora é diferente, de que tudo, de repente, mudou, de que somos outro país.
O fato é que, apesar dos avanços, somos ainda uma obra inacabada. E o mesmo governo que fez o Brasil ganhar o selo de país sério deixa escapar oportunidades que nos colocariam num outro patamar.
É o caso das contas públicas. Inegável que o país vem fazendo superávit primário, garantindo o pagamento da dívida pública, fundamental para obter o selo de investimento seguro. Só que trilhando um caminho nada recomendável.
No segundo mandato, o governo abriu seus cofres. Se por um lado estimulou os investimentos, o que é salutar, de outro elevou e muito suas despesas correntes, gastos que poderiam ser evitados. Com isso, ficou no esquecimento aquela boa idéia de evitar que as despesas públicas subissem mais do que o crescimento do PIB.
O que nos tem salvado dessa febre gastadora do presidente Lula é que a arrecadação da União só tem feito subir, mesmo sem a CPMF. Salvação, por um lado, perdição, por outro. Afinal, o governo bem que poderia diminuir seu apetite insaciável pelo seu, pelo meu, pelo nosso dinheirinho de impostos.
Esse tipo de "ajuste fiscal", sustentado pelo vento a favor da economia, implica sérios riscos. Se a brisa mudar de lado e o motor econômico do país esfriar, teremos graves problemas de caixa pela frente. O governo tem aumentado despesas que, depois, são praticamente impossíveis de reduzir a curto prazo -como gastos com pessoal e Previdência.
A novidade nessa novela é que até economistas ligados ao presidente, críticos severos da política do Banco Central, estão alertando que a curva dos gastos públicos precisa ser invertida. A dúvida é se Lula dará ouvidos a eles. Acho que não.


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