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CHICO SANTOS
Em nome da democracia
RIO DE JANEIRO - Os marines, fuzileiros navais americanos, os caubóis
e os jogadores de futebol foram meus
maiores ídolos na infância de menino do interior. Os jogadores profissionais, eu os conhecia, basicamente, do
rádio e das revistas.
Já os marines e os caubóis eram
meus velhos companheiros das matinês incendiárias do cineminha de 16
mm da cidade. Às vezes até pintavam
uns minutinhos de futebol no inesquecível "Canal 100" para encher de
vez o domingo.
Dos filmes de guerra, ficaram para
sempre na minha memória os que
mostravam os marines desembarcando em uma praia da Europa. Era
o Dia D, a invasão da Normandia,
que amanhã completa 60 anos. Na
tela, em preto-e-branco, era uma
guerra limpa e bonita. Os alemães e
seus canhões cuspiam fogo, mas nossos heróis eram mais espertos. Ao final, desfilavam sobre seus tanques
pelas ruas de Paris, jogando charme
hollywoodiano para as mocinhas.
Foi a cruzada da democracia contra o monstro nazista que os americanos muito bem encarnaram e melhor ainda venderam. Tão bem venderam que até hoje alemão é sinônimo de inimigo nas ruas, guetos e presídios sem lei do Rio de Janeiro.
Minhas primeiras noções de liberdade devem ter sido forjadas naquelas tardes de lavagem cerebral dos
anos 60.
Tanto que, no Vietnã, demorei a
compreender que ali se travava outra guerra. Era apenas um povo querendo decidir seus destinos e um
Exército poderoso e cruel dizendo
não. Tomou sua lição, mas não a assimilou.
Granada, Panamá e muitas outras
intervenções depois, veio essa incrível barbárie do Iraque.
O que é pior, o achincalhe de um
povo na prisão de Abu Ghraib cometido pelos "libertadores" ou essa animalesca carnificina na Casa de Custódia de Benfica?
Continuo a gostar dos velhos filmes
da Segunda Guerra Mundial, mas os
60 anos do Dia D não mereciam um
Bush nas suas comemorações.
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