|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
A rebelião de Benfica
A rebelião na Casa de Custódia
de Benfica, no Rio de Janeiro, iniciada no sábado e terminada na noite
de segunda-feira (31/5), causou a morte de 30 presos e do agente penitenciário e refém Marco Antonio Borgatte.
O mais triste e estarrecedor foi o fato
de os presos terem sido torturados e
barbaramente assassinados pelos próprios companheiros, como fruto de
um confronto entre grupos rivais de
traficantes de drogas. Houve muitos
feridos.
A maldade foi tão grande que, após
um julgamento sumário pelos membros da facção dominadora, decidiram trucidar os colegas com requintes
de perversidade até matá-los a golpes
de marreta. Vários corpos foram mutilados e carbonizados. Dizem as testemunhas que muitos outros já estavam
amarrados para serem igualmente eliminados.
Na história do sistema penitenciário,
esta rebelião atingiu o mais alto nível
de violência e de covardia entre os
próprios detentos, desencadeando
um clima de tensão e de revide difícil
de ser contido.
A violência tem crescido assustadoramente: assaltos. seqüestros e a brutalidade dos conflitos entre traficantes
de drogas. É enorme o número de jovens vítimas dos traficantes e da repressão policial. Parece que a vida não
vale mais nada. Como reverter a situação dramática a que chegamos?
O processo de reversão da violência
requer a soma de muitas iniciativas e a
mudança de mentalidade em busca de
um modo novo de conviver. No centro estão a defesa e a promoção da dignidade da pessoa humana, Segue-se a
necessidade de medidas pedagógicas
e de políticas públicas que convirjam
para o relacionamento humano marcado pela justiça, pelo respeito, pela
estima e pela garantia de condições
dignas de vida.
A maioria dos que incidem no crime
o fazem devido à ausência ou à falência do ambiente familiar. O primeiro
empenho da sociedade tem de ser pela
proteção da família bem constituída,
com laços estáveis, e pela possibilidade de habitação e de trabalho. Por que
tardar tanto a realizar o assentamento
dos sem-terra e o incentivo à agricultura familiar? É urgente que se ofereçam empregos na área urbana, multiplicando o quanto antes os trabalhos
que absorvem mão-de-obra, como saneamento, edilícia, limpeza pública e
melhoria e manutenção do sistema
viário.
A segunda exigência premente é a
reforma do sistema prisional. Nosso
país trata seus presos de forma desumana, violando a Constituição. Nossos presídios são degradantes e depõem contra o Estado democrático de
Direito, negando aos presos o respeito
devido à pessoa. As restrições de liberdade não podem ferir a dignidade do
ser humano. Entre as medidas urgentes está a necessidade de reduzir a superpopulação nas prisões, de eliminar
os maus-tratos, de oferecer atividades
laborativas e reeducação, bem como
de assegurar a defesa jurídica e o atendimento às famílias dos detentos.
Não podem faltar a atenção e o cuidado com as vítimas da violência e o
zelo pela segurança pública, além da
luta constante contra o tráfico de drogas
É preciso mais. Temos de descobrir
o projeto divino para a humanidade,
proclamado por Jesus Cristo, que nos
ensina a superar o ódio, a injustiça e a
exclusão pelo amor sincero, gratuito e
capaz de partilha e de reconciliação
fraterna e paz.
Somente o amor pode desarmar a
violência.
Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos
sábados nesta coluna.
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Chico Santos: Em nome da democracia Próximo Texto: Frases
Índice
|