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CLÓVIS ROSSI
Fatos e realidades
ROMA - Já não me lembro quem
disse uma frase paradoxal como "há
os fatos e há a realidade. Nem sempre coincidem".
É mais ou menos isso que está
acontecendo com o discurso do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva
sobre os biocombustíveis, o meio
ambiente, a Amazônia.
O discurso do presidente, nessa
área, tem sido articulado, com começo, meio e fim. Sobre a Amazônia, diz, por exemplo:
"A região Norte, onde fica quase
toda a floresta amazônica, tem apenas 21 mil hectares de cana, o equivalente a 0,3% da área total dos canaviais do Brasil. Ou seja, 99,7% da
cana está a pelo menos 2.000 quilômetros da floresta amazônica".
Completa: "Isto é, a distância entre
nossos canaviais e a Amazônia é a
mesma que existe entre o Vaticano
e o Kremlin".
É fato. Mas a realidade é que a devastação da Amazônia prossegue. E
o mundo quer saber se vai ou não
parar, independentemente da distância que separa as árvores dos canaviais e o Kremlin do Vaticano.
Também é fato, como Lula gosta
de repetir, que a União Européia só
tem hoje 0,3% de sua mata original.
Logo, é também fato que não teria,
digamos, autoridade moral para reclamar do desmatamento no Brasil.
A realidade, porém, é que a devastação na Europa já ocorreu, ninguém reclamou àquela altura, não
há nada mais o que se possa fazer e,
hoje, quando a consciência ambiental é outra, os europeus e toda a torcida do Flamengo (menos o governador Blairo Maggi) reclamam do
desmatamento na Amazônia.
O que há a fazer agora é evitar que
outra realidade se transforme em
fato. A realidade é que há um ruído
internacional em torno da suposta
(ou real) incapacidade dos brasileiros de tomarmos conta direitinho
da Amazônia.
Ou o país demonstra essa capacidade ou o ruído acaba virando fato
-e depois não adianta reclamar.
crossi@uol.com.br
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