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KENNETH MAXWELL
Lacunas restauradas
FOI APENAS nesta semana que
consegui avaliar com cuidado
os documentos liberados a pedido do "Valor", nos termos da Lei
de Liberdade de Informação dos
EUA, e postados no site do jornal.
O mais interessante dos documentos é um telegrama enviado de Brasília pelo então embaixador John J.
Danilovich, em 22 de junho de
2005, comentando sobre a nova
ministra da Casa Civil, Dilma
Rousseff. Trata-se do documento
E169, em valoronline.com.br/PDF/20050622Brasilia.pdf.
A maioria dos documentos anteriormente sigilosos que o governo
dos EUA libera para leitura pública
são editados. Ou seja, segmentos
do documento considerados como
sensíveis demais são apagados. A
maioria dos documentos liberados
para o "Valor" sofreram grandes
cortes desse tipo.
Para os historiadores, essas supressões tornam muito problemático o uso de documentos como esses. O que existe de mais notável
quanto ao documento E169, no entanto, é que o trabalho de edição
supressiva foi realizado de modo
tão incompetente que qualquer
um pode ler as partes censuradas.
Em outras palavras, os trechos supostamente censurados, em lugar
disso, aparecem em destaque, mais
ou menos da maneira que estudantes usam marcadores amarelos para destacar passagens de um texto
que desejam lembrar.
E o que o embaixador Danilovich escreveu sobre Rousseff e o
Departamento de Estado considerou merecedor de supressão?
Na página um, foi censurado o
comentário de que Rousseff é
"brusca e exigente". Isso não surpreenderia os brasileiros. Na página três, uma referência ao fato de
que ela é separada do marido, é
"teimosa" e "trabalha demais".
Mas a maior das supressões acontece na página dois e envolve suas
atividades como líder de guerrilha:
"A Joana d'Arc da subversão". O
telegrama discute o papel de Rousseff no "roubo do cofre do Ademar", o "lendário assalto (...) cometido com a invasão do apartamento
da amante do ex-governador de
São Paulo, Ademar de Barros, para
roubar os US$ 2,5 milhões que ele
tinha guardados lá". Por fim, o embaixador menciona os "22 dias de
tortura brutal com choques elétricos" sofrida por Dilma Rousseff.
Como é estranho o Departamento de Estado considerar que essas
informações sejam sensíveis demais para o consumo do público.
Afinal, se Dilma Rousseff um dia
for eleita presidente do Brasil, e se
John McCain, que também sofreu
torturas brutais quando prisioneiro de guerra, for eleito presidente
dos EUA, teremos dois chefes de
Estado com autoridade moral única para rejeitar de maneira inequívoca o uso da tortura como ferramenta política de Estado.
KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras
nesta coluna.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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