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DEFLAÇÃO E CRESCIMENTO
A Fipe constatou uma deflação de
0,37% em maio. No ano, a inflação é
de apenas 2,59%. No início de 1999,
quando o dólar ultrapassava a cotação dos R$ 2, a maioria dos analistas
acreditava que o repasse do aumento
de custos de produtos e componentes importados seria inevitável, o que
acabou por não ocorrer.
O cenário, pois, seria tranquilo, não
fosse o governo aproveitar a inflação
muito baixa para promover ou autorizar reajustes de preços em certos
bens e serviços. Têm ocorrido ou são
previstos aumentos expressivos em
remédios, combustíveis, energia elétrica e telecomunicações.
É uma correção que tem suas justificativas do ponto de vista do déficit
público ou da contabilidade das empresas privatizadas, mas que pesa no
orçamento das famílias, sobretudo
dos desempregados. Ou seja, que
agrava o peso social do ajuste.
Preocupa ainda a relação entre inflação contida e recessão. A prova de
que a economia pode de fato absorver os choques de custos em câmbio,
juros e tarifas será o reaquecimento.
Como as exportações não têm se recuperado, parte do equilíbrio externo
depende da contenção de importações, que ocorre graças à recessão.
Mas a queda da inflação, dos juros e a
subsequente reativação econômica
podem alavancar as compras no exterior. Isto é, há o risco sério de que o
déficit comercial cresça, o que aumentaria a desconfiança internacional quanto a uma piora no desequilíbrio das contas externas.
Para evitar o retorno de problemas
de credibilidade, o governo talvez tenha de aceitar uma nova rodada de
desvalorização da moeda nacional.
Afinal, o abandono da âncora do
câmbio libera o governo da obrigação de usar a política de juros para
defender o real. Talvez seja difícil evitar que o patamar de inflação aceitável tenha de ser um pouco mais alto
num contexto de juros menores e de
fim da recessão. Esse pode vir a ser o
preço a pagar por mais crescimento
econômico e menos despesas financeiras nas contas públicas.
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