São Paulo, Sábado, 05 de Junho de 1999
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DEFLAÇÃO E CRESCIMENTO

A Fipe constatou uma deflação de 0,37% em maio. No ano, a inflação é de apenas 2,59%. No início de 1999, quando o dólar ultrapassava a cotação dos R$ 2, a maioria dos analistas acreditava que o repasse do aumento de custos de produtos e componentes importados seria inevitável, o que acabou por não ocorrer.
O cenário, pois, seria tranquilo, não fosse o governo aproveitar a inflação muito baixa para promover ou autorizar reajustes de preços em certos bens e serviços. Têm ocorrido ou são previstos aumentos expressivos em remédios, combustíveis, energia elétrica e telecomunicações.
É uma correção que tem suas justificativas do ponto de vista do déficit público ou da contabilidade das empresas privatizadas, mas que pesa no orçamento das famílias, sobretudo dos desempregados. Ou seja, que agrava o peso social do ajuste.
Preocupa ainda a relação entre inflação contida e recessão. A prova de que a economia pode de fato absorver os choques de custos em câmbio, juros e tarifas será o reaquecimento.
Como as exportações não têm se recuperado, parte do equilíbrio externo depende da contenção de importações, que ocorre graças à recessão. Mas a queda da inflação, dos juros e a subsequente reativação econômica podem alavancar as compras no exterior. Isto é, há o risco sério de que o déficit comercial cresça, o que aumentaria a desconfiança internacional quanto a uma piora no desequilíbrio das contas externas.
Para evitar o retorno de problemas de credibilidade, o governo talvez tenha de aceitar uma nova rodada de desvalorização da moeda nacional. Afinal, o abandono da âncora do câmbio libera o governo da obrigação de usar a política de juros para defender o real. Talvez seja difícil evitar que o patamar de inflação aceitável tenha de ser um pouco mais alto num contexto de juros menores e de fim da recessão. Esse pode vir a ser o preço a pagar por mais crescimento econômico e menos despesas financeiras nas contas públicas.


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