São Paulo, Sábado, 05 de Junho de 1999
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EURO, TEORIA E PRÁTICA

A criação da moeda única européia suscitou expectativas, e mesmo esperanças, de que estaria ameaçada a predominância global do dólar. Mas, perto de seus seis meses, o euro suscita dúvidas a respeito da manutenção de seu valor, estando por ora afastada a possibilidade de que a hegemonia global da moeda norte-americana esteja em risco.
Os capitais de curto prazo, que dominam o cenário financeiro global, buscam permanentemente realizar ganhos por meio da troca de moedas. A alavanca dessas ondas no mercado monetário é o diferencial entre as taxas de juros nos vários países. Assim, há uma corrida para o dólar e uma fuga do euro quando os investidores constatam que os juros tendem a subir nos EUA e a ficar no máximo estáveis na União Européia. A moeda européia atingiu na última semana o nível mais baixo dos últimos dez anos em relação ao dólar (o marco alemão é a referência para o período anterior ao euro).
Se quiser enfrentar a desvalorização com mais vigor, o Banco Central Europeu será obrigado a elevar os juros. Num momento em que a economia dos EUA tende a se desaquecer e a Ásia mal se recupera da crise, uma alta dos juros europeus tornaria ainda mais improvável uma recuperação do crescimento europeu e mundial.
Se, ao contrário, os europeus optarem por aceitar a desvalorização cambial, suas exportações serão mais competitivas. Mas, nesse caso, os países fora da UE teriam mais dificuldades para entrar nos seus mercados. A economia européia cresceria mais, porém de modo excludente; não haveria contraposição ao dólar.
Até o momento, os líderes da UE não chegaram a um acordo sobre qual seria a pior das duas opções. Os embaraços para decidir têm origem num problema estrutural da economia européia: sua dificuldade para se tornar mais competitiva e para definir novas fronteiras de investimento -do que depende também uma moeda forte-, capazes de reduzir as taxas de desemprego na região.
Debatendo-se entre as tendências financeiras de curto prazo adversas e o desafio de gerar horizontes de longo prazo para os investidores, o euro ainda não abriu caminho para uma nova era de prosperidade.


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