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A eucaristia e o 'amor primeiro'
LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
Estamos na semana da festa de Corpus Christi, celebração litúrgica do
"corpo de Cristo entregue e do sangue derramado por nós". É a solene
comemoração do amor do filho de
Deus, que deu a vida para nos salvar.
1) Na Quinta-Feira Santa recordamos a última ceia, na qual Jesus instituiu o Sacrifício da Nova Aliança e a
selou com seu próprio sangue, aceitando a morte violenta na cruz. O
apóstolo João faz a apologia desse
"amor primeiro" pelo qual Jesus
Cristo -antes de qualquer resposta
de nossa parte- entregou-se a Deus
pai por nós (1 Jo 4,8). A ênfase litúrgica é colocada no amor de Cristo por
nós. "Não há maior amor do que dar
a vida pelo amado" (Jo 15, 13).
2) Na festa do "corpo de Cristo"
louvamos a Deus pelo grande dom da
eucaristia. Um aspecto primordial
nessa celebração é a resposta da nossa
parte à doação do salvador. "Deu a
vida por nós", diz são João, que conclui: "Também nós devemos dar a vida pelos irmãos" (1 Jo 3,16). Amor
com amor se paga. Assim, a mensagem e o significado do "corpo entregue de Cristo" é a descoberta de que,
ao amor gratuito e "primeiro" de
Deus para conosco, deve corresponder o nosso "amor primeiro" aos irmãos: "Amai-vos uns aos outros como eu vos amo" (Jo 13,35). Entrar em
comunhão com Cristo pela eucaristia
é imitar o divino salvador e comprometer-se em empenhar-se a fim de
que todos tenham vida.
3) Em cada celebração eucarística,
estamos pedindo a Deus que nos auxilie a cumprir o mandamento da nova
lei, amando "primeiro" -com plena
gratuidade- aos irmãos, a começar
dos mais necessitados. A eucaristia é,
assim, fonte de doação fraterna e tende a se expressar em gestos de solidariedade e partilha, lançando, ainda
nesta vida, as bases para um tipo novo
de sociedade, marcada pela justiça,
concórdia e paz.
4) Concentra-se, portanto, na eucaristia um enorme potencial de doação
e serviço ao próximo, nascido do
mandamento do amor, que deveria
dinamizar cada um de nós e a comunidade cristã para atender às necessidades espirituais e materiais do nosso
povo. Nessa perspectiva insere-se o
trabalho de evangelização como forma de aproximação mais pessoal, como visitas domiciliares, roteiros de reflexão para grupos de famílias, catequese crismal para os jovens, cursos
de teologia para leigos, preparação e
acompanhamento de casais, diálogo
ecumênico e inter-religioso.
Na mesma vontade de servir vão as
comunidades descobrindo como ir ao
encontro das situações de injustiça social e pobreza. Crescem a consciência
da cidadania e o compromisso político como forma qualificada do amor
cristão. Entre as iniciativas imediatas
mais frequentes, intensificam-se as
atividades da Pastoral das Crianças, os
cuidados para deficientes, enfermos e
idosos. Recente é o método de atendimento em família aos portadores de
HIV. Várias comunidades, neste ano,
criaram bancos de emprego, recebendo pedidos e habilitando candidatos.
Há união de esforços para construção
de casas em mutirão, assentamento de
famílias, organização de trabalhos artesanais e distribuição de alimentos,
roupas e remédios.
São formas de expressar a fraternidade cristã e de promover o bem comum que nascem do zelo em imitar o
coração de Jesus realmente presente
na eucaristia. O corpo entregue e o
sangue derramado de Cristo permanecem para sempre como o grande
exemplo de amor a ser seguido. São
também o alimento que nos fortalece
a fim de sermos capazes de cumprir a
missão de tornar visível no mundo de
hoje o amor primeiro que o Espírito
Santo em nós infunde.
D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados
nesta coluna.
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