São Paulo, sexta-feira, 05 de julho de 2002

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MEDO DA INFLAÇÃO

Não foi fácil para o governo federal chegar à decisão de modificar o regime de metas inflacionárias para os anos de 2003 e 2004. A equipe econômica sempre reluta em lançar mão de expedientes que possam soar como heterodoxos para os agentes que decidem investimentos no Brasil. Não à toa, a alteração, que admite alta maior do índice oficial de preços em troca de comprometimento menor da produção e do emprego, vem sofrendo críticas de economistas mais ortodoxos.
Estes temem que o pragmatismo com que agiram as autoridades econômicas se transforme em regra. Por esse raciocínio, sempre que as metas fixadas correrem risco de descumprimento, os governantes seriam tentados a modificá-las. O lado cruel desse postulado é o de que, se o "mercado" introduzir em suas expectativas a convicção de que as metas são móveis, a credibilidade, que é lastro do modelo, estará prejudicada.
Decerto teria sido menos traumático se o governo, em junho do ano passado, quando fixou em 3,25% a meta inflacionária para 2003, não houvesse sido tão ambicioso.
Aos poucos -mais lentamente do que seria desejável-, os agentes e o governo vão percebendo que os motores da subida de preços (choques externos e de oferta, surtos tarifários) não configuram um processo clássico de descontrole inflacionário.
Essa tomada de consciência pode ser um prenúncio de que a política econômica vá libertar-se do minimalismo dos últimos anos. Sem atacar também as causas da inadequada inserção externa que condena a economia brasileira a um regime de crescimento baixo, qualquer política econômica estará fadada ao fracasso.
É fundamental seguir discutindo para atingir um consenso acerca do nível de inflação e do regime de política monetária mais adequados a um país com as características do Brasil. Mas esse é apenas um instrumento entre os vários requeridos para implementar o que ainda falta: uma verdadeira política de desenvolvimento.


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