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MEDO DA INFLAÇÃO
Não foi fácil para o governo federal chegar à decisão de modificar o regime de metas inflacionárias para os anos de 2003 e 2004. A
equipe econômica sempre reluta em
lançar mão de expedientes que possam soar como heterodoxos para os
agentes que decidem investimentos
no Brasil. Não à toa, a alteração, que
admite alta maior do índice oficial de
preços em troca de comprometimento menor da produção e do emprego, vem sofrendo críticas de economistas mais ortodoxos.
Estes temem que o pragmatismo
com que agiram as autoridades econômicas se transforme em regra. Por
esse raciocínio, sempre que as metas
fixadas correrem risco de descumprimento, os governantes seriam
tentados a modificá-las. O lado cruel
desse postulado é o de que, se o
"mercado" introduzir em suas expectativas a convicção de que as metas são móveis, a credibilidade, que é
lastro do modelo, estará prejudicada.
Decerto teria sido menos traumático se o governo, em junho do ano
passado, quando fixou em 3,25% a
meta inflacionária para 2003, não
houvesse sido tão ambicioso.
Aos poucos -mais lentamente do
que seria desejável-, os agentes e o
governo vão percebendo que os motores da subida de preços (choques
externos e de oferta, surtos tarifários)
não configuram um processo clássico de descontrole inflacionário.
Essa tomada de consciência pode
ser um prenúncio de que a política
econômica vá libertar-se do minimalismo dos últimos anos. Sem atacar
também as causas da inadequada inserção externa que condena a economia brasileira a um regime de crescimento baixo, qualquer política econômica estará fadada ao fracasso.
É fundamental seguir discutindo
para atingir um consenso acerca do
nível de inflação e do regime de política monetária mais adequados a um
país com as características do Brasil.
Mas esse é apenas um instrumento
entre os vários requeridos para implementar o que ainda falta: uma verdadeira política de desenvolvimento.
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