São Paulo, sexta-feira, 05 de julho de 2002

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A DÚVIDA DA PROPINA

Depoimentos de pessoas ligadas a companhias de ônibus de Santo André vão conferindo verossimilhança cada vez maior à crença de que, sob o governo do prefeito petista Celso Daniel, assassinado em janeiro, teria sido montado um esquema para extorquir dinheiro de concessionários de transporte. Essa suspeita ensejou a investigação do Ministério Público paulista, que culminou numa denúncia à Justiça. Resta saber se tem procedência uma segunda argumentação aventada pelos promotores, a de que parte do dinheiro seguia rumo ao diretório nacional do PT, para financiar campanhas políticas.
Em entrevista a esta Folha, um desses empresários relatou sobre uma reunião, na Secretaria de Serviços Municipais de Santo André, em que teria sido acertada uma "taxa" de propina de R$ 550 por veículo.
Composta apenas por vereadores governistas, CPI instalada na Câmara de Santo André para averiguar as suspeitas dificilmente concluirá algo que contrarie interesses do PT.
A maior esperança para elucidar as implicações desse caso está depositada na Justiça. Para além dos efeitos locais da investigação sobre o esquema de propinas, cumpre esclarecer o mais rapidamente possível a suspeita levantada pelo irmão do prefeito assassinado -de que haveria conexão entre o esquema de Santo André e o presidente do PT, José Dirceu.
As investigações sobre o deputado petista foram bloqueadas por decisão de Nelson Jobim, do Supremo Tribunal Federal. O ministro parece que escolheu o momento errado para dar demonstração de sua isenção no processo eleitoral, que tem sido questionada. Com isso, lamentavelmente se perdeu oportunidade de esclarecer com mais celeridade suspeita gravíssima que recai sobre o partido. É importante que o procurador-geral da República recorra da decisão e que o plenário do STF permita que Dirceu seja investigado.


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